Título: Rivais no Quênia assinam acordo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2008, Internacional, p. A15

Pacto para pôr fim a conflito étnico cria governo de coalizão e cargo de primeiro-ministro, cedido a líder opositor

Nairóbi

Após dois meses de conflito, que deixou 1.500 mortos, o presidente do Quênia, Mwai Kibaki, e o líder da oposição, Raila Odinga, assinaram ontem, em Nairóbi, um acordo para criar um governo de coalizão e, assim, tentar pôr fim à violência.

Pelo novo pacto, Kibaki continuará a ser presidente e Odinga será o primeiro-ministro, cargo que ainda não existe no país. Também haverá dois postos de vice-premiê - um ocupado por um governista e outro, por um membro do partido de Odinga, o Movimento Democrático Laranja.

Os dois rivais trocaram um aperto de mão na cerimônia de assinatura do acordo, que foi mediado pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan. ¿Chegamos a um compromisso que era necessário para a sobrevivência deste país¿, disse Annan, que, na terça-feira, chegou a suspender o processo de paz porque as negociações não estavam avançando.

¿Como nação, temos mais questões que nos unem do que problemas que nos dividem. Fomos lembrados que temos de fazer tudo o que está em nosso poder para resguardar a paz, que é a origem da nossa unidade nacional. O Quênia tem espaço para todos nós¿, disse Kibaki, após assinar o documento. ¿Inauguramos um novo capítulo na nossa história, da era do confronto para o início da cooperação¿, discursou Odinga.

O conflito no Quênia começou após a eleição de 29 de dezembro, que reelegeu o presidente Kibaki, no poder desde 2002. A oposição afirma que houve fraude e deu início aos confrontos, que passaram a ser étnicos, já que Kibaki e Odinga são de tribos diferentes. Mais de 600 mil pessoas foram obrigadas a fugir por causa da violência.

REFORMA

O acordo também prevê uma revisão na Constituição, especialmente nos pontos que dão ao presidente uma autoridade quase irrestrita em todas as áreas do governo. Também deve ser incluído um capítulo para lidar com disputas de terras e riquezas - problemas recorrentes no país desde a independência da Grã-Bretanha, em 1963.

Pouco depois da assinatura do pacto, no centro da capital, Nairóbi, a polícia teve de usar gás lacrimogêneo para controlar partidários de Odinga, que estavam celebrando o acordo.

Especialistas afirmaram que a economia do país - antes considerado um dos mais estáveis da região - deve ser retomada com a assinatura do acordo. O governo chegou a perder quase US$ 30 milhões por dia em receitas, incluindo as exportações de chá e flores, principais atividades do país, juntamente com o turismo.

¿A questão agora é medir qual foi o impacto dos prejuízos nas companhias e na economia queniana¿, disse Matthew Pearson, diretor do Renaissance Capital Management, centro de estudos africanos com base em Londres. AP E REUTERS

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