Título: ONG quer maior participação de brasileiros na política dos EUA
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2008, Internacional, p. A11

Dos 17 mil imigrantes com cidadania americana em Massachusetts, só 3.400 estão registrados para votar

O Centro do Imigrante Brasileiro nos Estados Unidos quer aumentar a participação política dos brasileiros no país, para que um dia a comunidade tenha mais peso no processo decisório.

Atualmente, há governadores indiano-americanos (Bobby Jindal, de Lousiana), austro-americanos (Arnold Schwarznegger, da Califórnia) e mexicano-americanos (Bill Richardson, do Novo México). Mas os brasileiros estão virtualmente ausentes da política dos Estados Unidos, salvo alguns poucos representantes em conselhos municipais, alguns em cargo não eletivo.

Para que se tenha uma idéia, dos cerca de 230 mil imigrantes brasileiros que vivem no Estado americano de Massachusetts, apenas 17 mil já receberam a cidadania americana. Desses, só 3.400 estão registrados para votar nas eleições presidenciais de novembro.

Por isso, o centro vai promover um curso de ¿Participação Cívica¿, para que mais brasileiros se candidatem a cargos públicos. E vai repetir as jornadas de registro para eleições, como fez no meio do ano passado, para aumentar o número de brasileiros registrados para votar.

¿Estamos de olho na segunda geração, os filhos de brasileiros que nasceram aqui¿, diz Fausto da Rocha, diretor do centro. ¿Queremos que, daqui a 40 anos, eles ocupem o lugar que os irlandeses e os italianos ocupam hoje na política.¿

Segundo Rocha, é necessário ter imigrantes envolvidos na política para lutar pelas questões que são mais importantes para a comunidade.

CARTEIRA DE MOTORISTA

Em primeiro lugar, obviamente, vem a reforma da lei de imigração, para que haja uma perspectiva de legalização para os milhares de ¿indocumentados¿ que vivem no país. Mas há questões práticas pelas quais eles querem lutar também: permitir que os imigrantes tirem carteira de motorista, por exemplo, para que possam exercer várias profissões que exigem uso de carro.

O pré-candidato democrata Barack Obama defende abertamente a concessão de carteiras de motorista para ilegais, enquanto sua rival Hillary Clinton se opõe. O republicano John McCain não abordou o assunto em sua campanha.

Em Massachusetts, a maioria dos imigrantes é a favor de Hillary, seguindo a tendência dos latinos no restante do país. ¿Na época do Bill Clinton consegui muita coisa. Acho que a Hillary também vai ser boa para a economia¿, diz o goiano Pablo Maia, dono de uma imobiliária e cidadão americano, que votou na senadora nas primárias e pretende votar nela de novo, caso seja a indicada do partido.

Como Pablo, muitos brasileiros acreditam que ela vai ser melhor para os imigrantes latinos e vai recuperar a economia mais rapidamente. Mas há também eleitores de Barack Obama, por causa de sua posição mais flexível em relação à imigração.

Alguns, entretanto, vão votar em John McCain. O senador republicano quase destruiu a sua candidatura à presidência ao se tornar o idealizador da lei de reforma de imigração (juntamente com o senador democrata Ted Kennedy), que previa um caminho para legalização dos indocumentados.

A lei acabou sendo rejeitada no final de junho pelo Congresso e McCain perdeu muitos votos entre os conservadores, que consideram que o projeto significaria uma anistia para os ilegais.

Além disso, a grande maioria dos brasileiros da região de Boston é evangélica e muitos se alinham com os republicanos por suas posições em relação ao aborto e casamento gay, apesar da posição mais dura adotada pelo partido em relação à imigração. Só em Massachusetts há 300 igrejas evangélicas de brasileiros.

A imigração começou como um dos grandes temas da eleição presidencial americana, mas perdeu força. Os candidatos mais duros em relação à imigração, como os republicanos Tom Tancredo e Mitt Romney, que pregavam a deportação em massa dos ilegais sem nenhum plano de legalização, já foram excluídos da disputa.