Título: Classe C põe País em destaque no mercado global
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2008, Economia, p. B3

Brasil já é o 5.º maior em vendas de PCs e celulares; sucesso é atribuído às faixas de menor renda

A emergência do consumo popular, especialmente da classe C, explica por que o Brasil está se tornando um dos maiores mercados do mundo para diversos produtos, como chocolates, cosméticos e computadores. No segmento de computadores pessoais, no qual o Brasil já é o quinto maior mercado do mundo, a Positivo Informática, a empresa líder, centra sua estratégia na classe C. 'É daí que vem essa pujança', diz César Aymoré, diretor de marketing da Positivo.

A empresa brasileira multiplicou suas vendas anuais de 21.496 unidades, em 2003, para 1,389 milhão em 2007, o que significa um aumento de mais de 60 vezes. O mercado como um todo mais do que dobrou desde 2004, saindo de 4,67 milhões para 10,68 milhões de unidades vendidas em 2007.

Segundo Aymoré, uma das principais causas desse boom é a queda pela metade nos preços dos computadores desde 2004 - de uma média de R$ 2.872 naquele ano para uma média de R$ 1.446 em 2007. Ele nota ainda que os juros baixaram e o número de prestações saiu da faixa de 12 para 20 a 24 nesse período.

'As pessoas tinham de pagar prestações acima de R$ 100 para comprar um computador, e hoje está oscilando entre R$ 50 e R$ 59', diz Aymoré. Ele atribui essa queda de preços à desvalorização do dólar (que barateia a importação de componentes) e à chamada Medida Provisória (MP) do Bem, de outubro de 2005, que deu isenções fiscais para os computadores.

O executivo acrescenta que a estratégia da Positivo para as classes populares é ter uma comunicação que facilite o entendimento sobre o equipamento. 'Os nossos manuais sofreram uma adaptação para a classe C, e são muito fáceis de serem entendidos', exemplifica. A linha de computadores da empresa vai desde o modelo Futura, de R$ 799, até um notebook por R$ 3.499.

Segundo Aymoré, a penetração dos computadores na classe A está em torno de 88%, e na classe B é de cerca de 65%. Na classe C, com renda familiar mensal média de R$ 1.500, ela é de apenas 20%. 'Continuamos bastante focados na nossa estratégia de inclusão social, e a classe C ainda tem 80% a serem explorados.'

CELULARES

No segmento de celulares, onde o Brasil também é o quinto mercado do mundo em número de linhas, com 121 milhões no fim de 2007, a Nokia, líder de venda de aparelhos, foi surpreendida por um crescimento anual de 20% nos últimos anos, maior do que a sua projeção de 12%. Luciane Matiello, diretora de marketing da Nokia no Brasil, observa que milhões de brasileiros estão migrando para classes superiores de renda, da D e E para a C, e desta para as classes B e A, o que impulsiona o mercado de telefones celulares.

Luciane acrescenta que o crescimento da Nokia está bem distribuído em todas as classes, e a média de tempo para a troca de aparelhos caiu de 24 meses para 15 meses nos últimos dois anos. Segundo ela, o mercado tem duas vertentes: a dos chamados 'primeiro entrantes', que estão adquirindo pela primeira vez um celular, e a daqueles mais sintonizados na busca de tecnologia e convergência de funções (fotografia, som, internet, etc), concentrados nas classes A e B.

Mas a diretora ressalva que mesmo os consumidores nas faixas mais populares têm o que ela chama de 'ânsia de tecnologia'. Segundo Luciane, o consumidor brasileiro é muito voltado também para estilo e design, e a aquisição de novos aparelhos está ligada ao que ela chama de 'poder aspiracional', de se identificar com um determinado grupo socialmente valorizado. 'As pessoas querem mostrar de que turma elas fazem parte', resume.

Para Roger Saló, diretor de marketing de segmento premium da operadora de celular Vivo, com mais de 33 milhões de clientes, 'o crescimento em número de clientes está vindo claramente das classes C e D'. No caso das classes A e B, ele nota, a cobertura já é de quase 100%, e a competição entre as operadoras é para capturar clientes uma das outras. 'Aí a briga é por oferecer produtos diferenciados e aumentar a receita por cliente.'

Fora da seara tecnológica, o Brasil também já se destaca como um grande mercado de produtos alimentares e é o quarto maior consumidor do mundo de chocolate, perdendo apenas para os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido. A previsão de produção para 2008 é de 340 mil toneladas.

Getúlio Ursulino Netto, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), diz que ainda existem grandes variações regionais no consumo de chocolate, com São Paulo ostentando um consumo de 3,8 quilos por ano, equivalente ao italiano, e áreas na Região Norte com 300 gramas anuais.Para Ursulino Netto, o baixo valor unitário do chocolate também explica seu alto consumo no Brasil. 'É possível comprar um tablete por R$ 1, e um bombom por R$ 0,50', observa.

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