Título: BNDES acelera liberação de crédito
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2008, Economia, p. B5

Com o aumento na produção de máquinas, valor para o setor no bimestre cresceu 53% e chegou a R$ 3,3 bilhões

O aumento na produção de máquinas industriais obrigou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a reforçar o orçamento para o setor. Os financiamentos para o segmento fecharão o primeiro bimestre na marca inédita de R$ 3,3 bilhões, 53% acima do resultado do mesmo período do ano passado. Ainda não houve divulgação oficial, mas as liberações em fevereiro aumentaram cerca de 80% em relação ao mesmo mês do ano passado - a estimativa é que tenham ficado em R$ 1,63 bilhão.

A área técnica do banco já trabalha com previsão de alta de 6% do PIB para o primeiro trimestre, principalmente por causa do aquecimento da demanda por investimentos em bens de capital. O banco havia provisionado R$ 1,3 bilhão para o Finame (linha específica para o setor) em fevereiro. Previsão que já era considerada otimista, considerando os R$ 895 milhões liberados em fevereiro de 2007. Teve de injetar mais R$ 300 milhões.

'É uma grande surpresa o desempenho deste início de ano, época em que os financiamentos geralmente recuam', revela o diretor da área de Operações Indiretas do banco, Maurício Borges Lemos. O período de início de ano é historicamente marcado por uma espécie de 'recesso' nos financiamentos. Ainda mais surpreendente foi a equiparação de fevereiro, que teve apenas 18 dias úteis, ao volume liberado em janeiro.

Para Lemos, se mantiver o comportamento, o resultado do Finame pode chegar ao fim do ano com crescimento acima de 50%, já que os últimos trimestres são sempre os que apresentam maior demanda. Segundo o executivo, esse resultado é um novo nível de investimentos na indústria. 'Não há dúvidas de que isso se deve ao bom momento da economia.' O segmento de bens de capital marcou o ritmo do aumento de 6% na produção industrial em 2007.

No Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que acompanha oficialmente a evolução da indústria, a constatação é que a expansão em 2007 tem características mais positivas do que as de 2004, ano que apresentou, até agora, o melhor desempenho da década. O aumento de 8,3% daquele ano, porém, além de ter ocorrido sobre uma base zero (2003 representou a estagnação do setor), foi calcado no boom da construção civil e no aquecimento da indústria voltada especificamente ao maquinário agrícola. O do ano passado baseou-se no reequipamento da indústria.

Puxaram a demanda por equipamentos a indústria de alimentos e bebidas, que, no ano passado, elevou em 81% o volume de empréstimos tomados no Finame, fechando 2007 com R$ 1,655 milhão. O superintendente de Operações Indiretas do banco, Cláudio Bernardo de Moraes, destacou ainda setores ligados ao etanol, à construção civil pesada e às máquinas rodoviárias, como retroescavadeiras.

Ele lembrou também da recuperação em setores atingidos duramente pelo câmbio, como a indústria têxtil, que em 2006 tomou apenas R$ 52 milhões no BNDES e, no ano passado, chegou a R$ 115 milhões. 'O ponto mais positivo é que esse aquecimento está sendo mantido no início de 2008. Podemos dizer, com certeza, que alcançamos um novo nível de investimentos. Essa mudança estrutural teve início no segundo trimestre de 2007 e, ao que tudo indica, vai se consolidar este ano', disse Moraes.

Uma abertura de dados mais detalhada, feita pelo IBGE a pedido do Estado, verificou que, em 2007, os chamados bens 'não seriados' viram sua produção aumentar em 7,4% em 2007. Em 2004 - o melhor ano da década - esse subsetor havia tido a significativa queda de 6,6%. Esses equipamentos, fora de série, são feitos sob encomenda, tradicionalmente para grandes projetos industriais ou para expansão de uma fábrica.

'Dentro do segmento de máquinas voltadas para a indústria, esse foi o grande diferencial', diz André Macedo, do Departamento de Indústria do IBGE. O indicador ganha dimensão maior nas expectativas para o desempenho industrial deste ano quando interposto aos dados do BNDES. Os equipamentos não seriados não constam do Finame. Para esses bens sob encomenda, as empresas costumam recorrer ao banco em operações diretas de financiamento a projetos.

O IBGE destaca que, em 2007, o avanço industrial ocorreu de forma generalizada nas várias categorias. A produção de bens de capital para o setor agrícola assinalou o maior aumento: 48,3%. Mas representa quase uma distorção, já que o setor atravessou intensa crise em 2005 e 2006 e no ano passado começou a se recuperar.

O salto da indústria em 2004, aliás, foi garantido, em parte, pela demanda do setor agrícola, até então num bom momento. Também contribuiu, naquele ano, a construção civil, que cresceu 38%. Em 2007 continuou forte, mas cresceu 18,7%. 'Os dados de 2007 mostram que a produção de bens de capital dá mais qualidade ao crescimento, pois representa a ampliação da capacidade e a modernização industrial', diz Macedo.

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