Título: A alta do petróleo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2008, Notas e Informações, p. A3

Na última terça-feira, a publicação Oil Market Report, da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), organismo financiado pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgava opiniões de qualificados especialistas no sentido de que os preços atuais do petróleo não estão atravessando apenas ¿uma fase¿ de alta; essa alta veio para ficar. No dia seguinte à tarde os preços chegaram a US$ 110 o barril.

Até há pouco tempo, predominava a tese de que a alta de preços era efeito de especulação desenfreada com a commodity nos mercados internacionais. Repetia-se a opinião de que era ¿especulativa e irracional¿, disseminada em 2003, quando o petróleo atingiu US$ 30 o barril.

Não resta dúvida de que a especulação e o enfraquecimento do dólar ajudaram o preço do óleo a chegar a US$ 78 o barril em 2006, declinando para cerca de US$ 50 o barril em janeiro do ano passado. Também ajudaram a chegar até os US$ 109,92 - cotação futura de fechamento apurada em Nova York, dia 12/3, do tipo West Texas Intermediate (WTI), mais caro do que o tipo Brent e do que a cesta de óleos divulgada diariamente pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), de US$ 100,57, na terça-feira.

Mas há fatos concretos que justificam a alta de preços: o equilíbrio instável entre oferta e demanda ao nível dos 87,5 milhões de barris/dia; o custo crescente da descoberta de novos poços e da extração do óleo; e a recuperação do poder de mercado da Opep.

¿Estamos em uma era de preços elevados¿, diz o relatório da IEA. ¿Temos de olhar para o barril a US$ 100 com a compreensão de que os preços provavelmente não retornarão aos níveis do início da década.¿

O crescimento da demanda de petróleo na China, estimado em 6,1% neste ano, em relação a 2007, é outro fator a explicar a ascensão dos preços. A IEA deu destaque às declarações do ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, de que os preços não poderão ser inferiores a US$ 60 o barril ¿porque este é o custo das alternativas (ao petróleo)¿.

A IEA estimou que o custo de descobrir e desenvolver áreas de petróleo na plataforma marítima dos Estados Unidos é da ordem de US$ 64 o barril. Como as áreas consideradas mais promissoras, inclusive no Brasil, estão situadas em águas profundas ou profundíssimas, abaixo da camada de sal, é de supor que os preços da commodity tendam a se manter em níveis elevados, se cotejados com os do início da década ou do ano passado.

Há, ademais, o poder da Opep, que deixou de ser um cartel apenas no nome para se transformar num cartel de fato, como analisou Robert J. Samuelson, em artigo publicado no Estado de quinta-feira. Com receitas multiplicadas por quatro desde 1999 e que hoje são da ordem de US$ 670 bilhões por ano, a Opep não está preocupada em aumentar a produção e contribuir para uma queda das cotações. Quer, isto sim, manter os preços elevados e ainda se beneficiar dos erros nas estimativas de consumo da China, que superam o previsto, e à queda da produção em países vítimas como o Iraque, a Nigéria, o Irã e a Venezuela.

Não importa, para a Opep, que a economia dos Estados Unidos esteja perdendo velocidade - e que um mecanismo natural de correção tenha, no passado, propiciado a diminuição dos preços do óleo bruto.

Principal commodity negociada no mundo, o petróleo, sozinho, não parece ter peso suficiente para provocar um grande desequilíbrio da economia mundial. Prova disso é que o PIB do mundo cresceu nos últimos anos, apesar dos preços altos do petróleo bruto. Mas pode contribuir para retardar a recuperação dos Estados Unidos, pressionando a inflação num momento em que o Fed tem de reduzir os juros básicos para evitar o risco de recessão decorrente das dificuldades da crise das hipotecas subprime.

O Brasil já despende mais dólares para importar os óleos leves que não produz. E, se não aumentar muito a produção neste ano, terá de suportar maior desequilíbrio na balança comercial do petróleo e derivados, que foi negativa em US$ 4,1 bilhões, em 2007, superando o déficit de 2006 em 79%.

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