Título: PT tenta maquiar aliança com tucanos em Minas
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2008, Nacional, p. A10

Para conseguir apoio a candidato balizado por Aécio e Pimentel, saída de petistas será repetir à exaustão que acordo será com PSB, não PSDB

Com resistências ao acordo costurado entre o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), para a eleição de outubro, a cúpula petista já começa a traçar a rota de fuga do terreno minado. Para escapar do fardo de apadrinhar um casamento entre os dois partidos, com reflexo na sucessão presidencial de 2010, a direção do PT planeja um jogo de palavras típico de resoluções que prometem dor de cabeça. A saída no figurino petista para aprovar o acordo deverá embutir uma artimanha: repetir à exaustão que a aliança em Belo Horizonte não é com o tucanato, mas com o PSB.

A possível dobradinha de petistas e tucanos na capital mineira ultrapassa as fronteiras do município e é o primeiro movimento relevante para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010. Embora Lula tenha dado a bênção à união, dirigentes do PT torcem o nariz para o acordo fechado entre Pimentel e Aécio. A dupla pretende lançar a candidatura de Márcio Lacerda, do PSB, à Prefeitura de Belo Horizonte, tendo o PT como vice da chapa. Detalhe: Lacerda é secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Aécio. Além disso, é ligado ao deputado Ciro Gomes (PSB), que, a exemplo do governador mineiro, está de olho na cadeira de Lula.

A polêmica promete esquentar a reunião do Diretório Nacional do PT, marcada para o próximo dia 24, com o objetivo de definir com quem o partido pode ou não se aliar nas eleições de outubro. ¿Eu não estou propondo nenhum absurdo¿, afirma Pimentel. ¿Artificial seria se eu, Aécio e o presidente Lula, que sempre nos demos bem, inventássemos uma disputa agora.¿

Depois de conversar com Lula e obter sinal verde para o acordo, o prefeito de Belo Horizonte disse esperar que as ¿idiossincrasias¿ entre o PT e o PSDB em São Paulo - onde os dois partidos sempre disputaram com unhas e dentes todas as eleições - não interfiram na composição das alianças. Pimentel espera concorrer ao governo de Minas, em 2010, com aval de Aécio. Na outra ponta está o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, também candidato à vaga e contrário à aliança.

¿Eu respeito a realidade paulista: sei que em São Paulo essa parceria não dá. Mas, se conseguirmos mostrar em Minas que as coisas podem ser diferentes, será muito bom para o Brasil¿, insistiu Pimentel. ¿Não há motivo para sermos inimigos, pois temos identidade até na economia¿, reforçou Aécio.

CONTORCIONISMO

Na prática, o PT deve proibir casamentos de papel passado com o PSDB e o DEM nas eleições municipais, mas tudo indica que será aberta uma exceção no caso mineiro, por meio de um contorcionismo verbal. A hipótese já provoca arrepios nas fileiras petistas. ¿Esse flerte de parcela do PSDB com uma ala do PT só fortalece a candidatura do Aécio, o governador do déficit zero que aparece como figura pública de baixo conflito para 2010¿, protesta Joaquim Soriano, secretário de Formação Política.

O comentário parte da constatação de que os movimentos de Aécio são para exibir vigor político no PSDB, na tentativa de ganhar pontos para o duelo com o governador de São Paulo, José Serra, com quem pretende brigar pela vaga de candidato à Presidência. Sob o argumento de que a indicação do PSDB em Belo Horizonte aparece ¿travestida de candidatura do PSB¿, Soriano vai defender uma ¿resolução à parte¿ para o imbróglio conhecido como ¿disputa do pão de queijo¿.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) engrossou a romaria dos últimos dias a Belo Horizonte. ¿Esse movimento busca a convergência e pode inspirar uma agenda positiva para o Brasil, que transcende a questão eleitoral¿, disse o senador.

Enquanto os petistas divergem, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tenta atrair Aécio para seu partido. Levou dois foras no estilo mineiro, que deixa a porta aberta. Mas promete insistir na política ¿café-com-leite¿.

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