Título: Base guerrilheira tinha centro de treinamento
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2008, Internacional, p. A15

Equador estima em cerca de 3 mil o número de guerrilheiros das Farc infiltrados no país

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)mantêm acampamentos na região da fronteira com o Equador desde 2000. O grupo guerrilheiro tem a simpatia dos ribeirinhos, a quem costuma solicitar serviços bem remunerados. As Farc contam também com as dificuldades técnicas do Exército equatoriano, que ainda faz a patrulha na floresta a pé e dispõe de poucos recursos tecnológicos para vigiar com eficiência a sua fronteira. ¿As Farc vêm para o Equador quase sempre para descansar¿, afirma o comandante do Batalhão 54 de Operações Especiais na Selva, coronel José Nuñez.

No ataque do dia 1º, a Força Aérea colombiana castigou os 120 mil metros quadrados do acampamento comandado por Raúl Reyes, o ¿número 2¿ da organização, que tinha sala de aula e até campo de treinamento.

É difícil acreditar que o Exército equatoriano, apesar de todas as dificuldades para patrulhar a área, não tivesse percebido a existência de uma base tão grande. O comandante Nuñez contou que uma patrulha de sua brigada chegou a passar pelo acampamento no momento da construção. ¿Os soldados da patrulha viram que algo estava sendo construído na floresta, mas acharam que eram apenas agricultores trabalhando a terra¿, contou o comandante.

Segundo ele, o Exército costuma fazer um trabalho de infiltração. Soldados incorporam-se aos ribeirinhos que prestam serviços para as Farc - afinal, para erguer uma infra-estrutura no meio da floresta, a guerrilha quase sempre precisa da ajuda da população local. O acampamento de Reyes tinha 32 dormitórios, uma cozinha, duas despensas, um chiqueiro e um refeitório para 50 pessoas, entre outras instalações.

Sabe-se agora que as Farc tinham apoio de um casal de camponeses colombianos em uma fazenda vizinha ao acampamento, onde mantinham mais de 20 cabeças de gado. O Exército descobriu, após a Operação Fênix, que o casal colombiano não tem documentação. ¿Eles provavelmente foram trazidos para dar suporte às Farc¿, observou Nuñez.

Um militar, que preferiu não se identificar, afirmou que a base montada pelas Farc na região de Angostura não servia apenas como refúgio. ¿Eles estavam aqui para treinar e doutrinar¿, afirmou. No meio do acampamento, há um centro de treinamento. Ali, também havia uma sala de aula para doutrinar os guerrilheiros na cartilha bolivariana. ¿Esse é um dos maiores centros de treinamento que já vi¿, reconheceu Nuñez.

Desde 2000, quando foi criado o Plano Colômbia - o pacote de cooperação militar e social de combate ao narcotráfico financiado pelos EUA -, as Farc foram empurradas para a zona de fronteira. De lá para cá, o governo equatoriano teria destruído 117 bases guerrilheiras. Atualmente, há 11 mil militares equatorianos no cordão fronteiriço. Muito pouco, se comparado com o contingente colombiano. Ali, vigiando a fronteira, estão 260 mil soldados. A Colômbia conta com duas bases militares na fronteira que abrigam 40 mil militares.

Em Putumayo, região colombiana vizinha de Sucumbíos, no lado equatoriano, a Colômbia conta com 16,5 mil soldados. Segundo o Ministério da Defesa equatoriano, as Farc têm cerca de 3 mil homens na região. Reyes tinha planos de ampliar seus tentáculos no Equador, que incluía a construção de uma nova base próxima daqui. ¿Descobrimos a área após o ataque¿, revelou um oficial. E não precisou de muita tecnologia. Bastou sobrevoar o local.

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