Título: País investe no Brasil cerca de US$ 30 bilhões
Autor: Sant'Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2008, Internacional, p. A20
Espanha é a segunda maior investidora do mercado brasileiro e a sexta em todo o mundo
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, veio descansar na Espanha durante o Carnaval. Mesmo assim, foi falar com o seu colega espanhol. Amorim, de ascendência espanhola, pediu a Miguel Ángel Moratinos que a Espanha contivesse a repatriação de brasileiros que chegam ao Aeroporto de Barajas e abrisse o seu mercado às empresas do Brasil na disputa por contratos públicos, para que esses dois problemas deixassem de ser ¿irritantes¿ nas relações dos dois países.
O primeiro pedido foi ignorado. A imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral. O governo socialista é acossado pela oposição de direita por supostamente ser permissivo demais, sobrecarregando os serviços sociais com os imigrantes, de renda baixa, em vez de dar conforto aos espanhóis. E quem vota nessas eleições são os espanhóis, não os brasileiros.
O segundo pleito é de mais longo prazo. A Espanha protege suas empresas nas licitações, incluindo nos editais exigências como ¿conhecimento do mercado local¿, e não é só o Brasil que se queixa. Vizinhos como França e Itália também saem prejudicados. Mesmo assim, grandes empresas brasileiras começam a entrar no mercado espanhol. A siderúrgica Gerdau, junto com o Grupo Santander, comprou em 2005 a Sidenor, que fabrica lâminas de aços especiais para a indústria automobilística européia. A Santista Têxtil adquiriu em 2006 o controle acionário da Tavex Algodonera, tornando-se a maior fabricante mundial de denim. Alguns dos setores em que os brasileiros são mais competitivos, como siderúrgico, têxtil, papel e celulose, cimento e petróleo (a Petrobrás estudou comprar a Cepsa, segunda empresa do setor na Espanha) são justamente aqueles em que os espanhóis estão obsoletos.
Nada, no entanto, que se compare à onipresença da Espanha no Brasil, que abriga 283 empresas espanholas, dos mais diversos setores, muitas delas familiares, de pequeno e médio porte. Sexto maior investidor mundial, a Espanha é o segundo no Brasil, perdendo apenas para os EUA. O Brasil também é o segundo destino de investimentos espanhóis no exterior (10,9%), atrás apenas da Grã-Bretanha (17,4%). Até 2006, o Banco Central do Brasil computou um estoque de US$ 29,6 bilhões de investimentos espanhóis, já contabilizados desinvestimentos, como vendas de empresas. O número de 2007 ainda não está consolidado, mas, com a compra da TIM pela Telefónica e do Real/ABN Amro pelo Santander, os leilões de rodovias e linhas de transmissão vencidos por empresas espanholas e a construção de complexos hoteleiros e residenciais no Nordeste, esse estoque chegou facilmente aos US$ 31 bilhões.
No comércio, a relação se inverte. Em 2007, o Brasil exportou para a Espanha US$ 4,48 bilhões (49,2% a mais que em 2006). E importou menos da metade: US$ 1,84 bilhão (28,7% mais que no ano anterior).
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