Título: Raúl permite comprar insumo agrícola
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Internacional, p. A11
Pela primeira vez desde a década de 60, lojas cubanas venderão herbicidas e ferramentas para o cultivo
O governo cubano levantou parcialmente uma proibição para que agricultores possam comprar materiais para ajudar em sua produção. Pela primeira vez desde a década de 60, lojas colocarão à disposição dos agricultores ferramentas, herbicidas, botas e outros tipos de materiais. A informação foi divulgada ontem pela Reuters, que ouviu fontes ligadas ao setor. A medida é mais um sinal de que o presidente Raúl Castro está apostando na iniciativa individual para estimular a produção de alimentos.
¿Os materiais deixam de ser exclusivamente uma concessão do governo¿, disse à agência Reuters um especialista cubano em agricultura. ¿É uma rachadura no monopólio e na centralização - rachadura que certamente se espalhará.¿
Fazia tempo que fazendeiros reclamavam que a falta de ferramentas básicas prejudicava a agricultura, deixando muitas vezes plantações inteiras apodrecerem. Agora, materiais como lixas de metal, rastelos, pás, machados e outros serão vendidos em pesos conversíveis. A unidade monetária é usada pelos estrangeiros e vale 24 vezes mais do que o peso cubano - um peso conversível vale US$ 1,08.
Desde julho de 2007, Raúl vem falando sobre a necessidade de fazer mudanças na economia, entre elas, reformas estruturais para aumentar sua eficiência. Poucos analistas esperam mudanças radicais vindas de Havana. No entanto, muitos acreditam que Raúl colocará em prática medidas para tornar mais eficiente a frágil economia do país.
Quando assumiu a presidência da ilha em 24 de fevereiro, Raúl decidiu dar início a medidas para melhorar o sistema econômico.
¿Nas próximas semanas começaremos a eliminar proibições mais simples, como as que limitam a concessão de benefícios a alguns cidadãos. Outras serão mais debatidas, pois são mais sensíveis e estão relacionadas à constante agressão americana¿, afirmou o presidente em seu discurso de posse.
Raúl, sucessor de seu irmão Fidel (que ficou quase 50 anos no poder), diz que Cuba deve produzir mais alimentos para reduzir importações. Em 2007, a importação de alimentos chegou a quase US$ 2 bilhões. Os altos preços dos alimentos e as reclamações dos fazendeiros fizeram Raúl pôr a agricultura no topo de sua agenda de governo. Cuba tem cerca de 250 mil famílias de agricultores e 1,1 mil cooperativas privadas em uma economia que é 90% controlada pelo Estado.
Na quinta-feira, o governo cubano suspendeu restrições à venda de alguns aparelhos eletrônicos, como computadores e DVDs. A suspensão foi feita por causa da ¿melhora da disponibilidade de eletricidade¿ no país. Os itens eram disponíveis anteriormente apenas no mercado negro. A venda de muitos equipamentos domésticos foi suspensa na década de 90, quando o colapso da União Soviética privou Cuba de bilhões de dólares em subsídios e fornecimento de petróleo. O governo cubano amenizou seus problemas de energia em 2006, após importar centenas de geradores de eletricidade movidos a combustível (fornecido pela Venezuela).
Em outro sinal de que o país está mudando, Havana iniciou ontem o processo de mudança de motores de cerca de 2 mil caminhões soviéticos, como parte de sua ¿revolução energética¿. Segundo o jornal oficial Granma, os motores soviéticos - em uso há 30 anos - fazem de dois a três quilômetros por litro de gasolina. Eles serão substituídos por motores chineses, que fazem entre quatro e seis quilômetros por litro de diesel. A China é o segundo parceiro comercial de Cuba, depois da Venezuela.
MUDANÇAS DE RAÚL
Agricultura: Governo levanta parcialmente proibição para que agricultores do país possam comprar insumos, como ferramentas, herbicidas, botas e outros tipos de materiais
Aparelhos eletrônicos: Havana suspende restrições à venda de alguns aparelhos eletrônicos, como computadores, videocassetes e DVDs
Debates: Raúl convida a população para debate aberto sobre a situação econômica do país. O convite para a discussão, feito em setembro, dá-se dois meses depois de Raúl ter admitido que os salários na ilha são muito baixos