Título: Brasil não atinge meta de cura da tuberculose
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Vida &, p. A16

País deve ter 'esforço extra' na luta contra doença, que mata 5 mil ao ano

O Brasil precisa 'fazer um esforço extra' em sua luta contra a tuberculose. O recado foi dado ontem pelo diretor do departamento de combate à tuberculose da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mario Raviglione, durante o lançamento do relatório mundial sobre a situação da doença no mundo. Segundo ele, 'não há justificativas' para a situação no Brasil, que não cumpriu ainda meta de cura de 85% dos casos da doença e está atrás da Índia, Congo e China nesse item. A OMS também aponta a necessidade de o País avançar na estratégia de tratamento supervisionado - o abandono dos remédios contribui para o avanço da doença - e aprimorar a notificação de casos no País. O órgão estima que 45% deles não sejam informados às autoridades de saúde brasileiras.

Segundo a OMS, o Brasil ainda é o 16º país com mais casos no mundo - em uma lista que reúne 22 nações - e, ainda que a incidências de casos tenha sofrido queda de 3,3% entre 2005 e 2006, naquele último ano havia 94 mil casos, com uma mortalidade de 4 pessoas para cada 100 mil habitantes. O Ministério da Saúde confirma que hoje há cerca de 80 mil casos novos por ano, com 5 mil óbitos.

'A cobertura dos tratamentos supervisionados é de 86%. A realidade é que ainda há um longo caminho a percorrer', criticou Raviglione. 'No Brasil, a taxa de cura é de apenas 77%. Isso é muito baixo', continuou. Na Índia, a taxa de cura é de 86%, contra 85% no Congo e 94% na China, disse. 'Não há justificativas para o Brasil não ter números parecidos aos desses países. O Brasil precisa fazer o que implementou no setor de aids também em tuberculose', concluiu.

Em números absolutos, a situação no Brasil é mais grave que a do Zimbábue, Camboja e Afeganistão. Mas está distante dos mais de 1,9 milhão de infectados na Índia e 1,3 milhão na China, os líderes.

O coordenador do programa brasileiro de combate à doença, Draurio Barreira, contestou o dado que aponta subnotificação no País. 'Muito me surpreendem as declarações do doutor Mario Raviglione', disse. Segundo ele, revisão feita no ano passado pela própria OMS apontou que o país detecta 89% dos casos. Mas o coordenador reconheceu o não-cumprimento da meta de cura e destacou que o País está investindo, por exemplo, no diagnóstico por meio do Programa Saúde da Família (PSF). 'Quanto à comparação com diferentes países, não me parece muito adequado. A China e outros países ainda têm modelos assistenciais centrados na internação, muitas vezes compulsória, o que fere os princípios do Sistema Único de Saúde', disse Barreira, que assumiu há cinco meses.

'O governo tenta minimizar, mas a situação é gravíssima. Considerando que há um século conhecemos o agente causador, que há métodos de diagnóstico e que a doença é tratável, por que temos 5 mil mortos por ano? É um escândalo. Por isso a OMS está preocupada', afirma Carlos Basilia, secretário nacional da Parceria Brasileira contra a Tuberculose, entidade que reúne integrantes da sociedade civil que lutam contra a doença.