Título: Mercado treme e Fed deve cortar juro
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B1
Compra do Bear Stearns pelo JP Morgan assusta bolsas e cresce pressão sobre o Fomc para nova redução da taxa
A compra do Bear Stearns pelo JP Morgan, patrocinada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), detonou nova onda de pânico no mercado ontem e derrubou as bolsas do mundo inteiro. Para os investidores, a queda da primeira grande vítima do mercado imobiliário americano elevou significativamente o risco de crise sistêmica no setor bancário, com a quebra de outras grandes instituições, como o Lehman Brothers.
Entenda a crise nos Estados Unidos
A negociação, anunciada na tarde de domingo, foi acompanhada de uma decisão inesperada do Fed, de cortar em 0,25 ponto porcentual a taxa de redesconto para os bancos comerciais. Tudo isso reforçou as apostas de redução expressiva na taxa básica de juros nos Estados Unidos na reunião de hoje do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). A maioria espera redução de 1 ponto porcentual nos juros, para 2%. Mas há quem acredite em até 1,25 ponto para estancar a crise.
A deterioração do cenário americano foi traduzida numa debandada geral dos investidores de aplicações de maior risco para ativos mais seguros, como o ouro. Na Europa, a maioria das bolsas terminou o dia com quedas superiores a 3%, movimento semelhante ao da Ásia. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 3,19% e acumulou perda de 6,06% no ano.
Em Wall Street, a Nasdaq teve desvalorização de 1,6% e somou prejuízo de 17,92% em 2008. Já o Dow Jones se recuperou no fim do dia e fechou em terreno positivo, com alta de 0,18%. O desempenho do índice foi influenciado pela valorização das chamadas blue chips (ações de primeira linha), como JPMorgan (10,62%). No ano, o Dow Jones acumula perda de 9,74%.
Para hoje, além da decisão do Fomc, os investidores estarão de olho nos balanços que serão divulgados por Lehman Brothers, Goldman Sachs e Morgan Stanley. Ou seja, o alívio provocado pela decisão do Fed pode ser anulado por resultados ruins dessas instituições.
¿O mercado vai fuçar todas as entrelinhas dos balanços para ver se consegue alguma sinalização do que pode vir pela frente¿, destaca a economista da Tendências Consultorias Integrada, Alessandra Ribeiro. Um motivo de tranqüilidade, diz ela, é que o Fed já demonstrou que vai intervir nos grandes bancos, se necessário. ¿O problema é que ninguém sabe a profundidade da crise e até onde o Fed agüenta socorrer as instituições.¿
Para o economista da corretora Ágora, Álvaro Bandeira, os bancos centrais dos EUA e de outros países estão fazendo o possível para evitar a extensão da crise. ¿Mas os problemas são sérios e só política monetária não adianta, é preciso atuar no problema, com medidas que aliviem os mutuários e dêem condições para o mercado imobiliário voltar a trabalhar.¿