Título: Analistas pedem ação mais contundente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B3

Para economistas, governo deve atuar com o Fed

A escalada da aversão ao risco no mercado internacional, mesmo após as medidas do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no domingo, faz com que seja crescente a percepção de que a administração Bush precisará agir de forma mais contundente ao lado do Fed, segundo analistas ouvidos pelo Estado em Nova York.

Entenda a crise nos Estados Unidos

Para os economistas em Wall Street, agora é hora de o governo promover estímulo fiscal à compra de moradias ou encorajar mudança de regulamentação para interromper, por um período limitado, a divulgação de balanços trimestrais de instituições do setor financeiro.

Os temores com os problemas crescentes de liquidez, argumentam os especialistas, só devem acabar quando a deterioração do setor de imóveis, o epicentro da crise, bater no fundo do poço - e isso só deve ocorrer em 2009, advertiram os economistas. Enquanto isso, está em jogo a maior deterioração da economia real.

No domingo, além de cortar o redesconto em 0,25 ponto porcentual, para 3,25%, o Fed ampliou garantias a empréstimos e autorizou ¿a criação de uma linha para melhorar a capacidade dos bancos credenciados em promover financiamento aos participantes no mercado¿, o que significa que os bancos de investimentos e corretoras também saem favorecidos, e não apenas os bancos comerciais.

A falta de confiança das instituições ficou evidente ontem de manhã, mesmo após a ação de emergência do Fed no fim de semana e do socorro ao Bear Stearns anunciado na sexta-feira, com o índice de aversão ao risco medido pelo UBS batendo no maior nível em três meses: 1,92 ante 1,74 na sexta-feira.

A necessidade de uma ação mais forte da administração federal é vista como inevitável, já que as medidas anunciadas pelo Fed funcionaram para o mercado como reconhecimento da autoridade monetária de que mais instituições financeiras podem ser varridas pela crise de liquidez. Segundo os analistas, os balanços trimestrais das instituições financeiras vão continuar contaminados pelo declínio dos preços dos imóveis.

¿Os temores sobre risco sistêmico continuam. O fato de deixar aberta linha de liquidez para instituições não depositárias (bancos de investimento e corretoras) levanta a questão se o Fed já não está vendo que outros podem enfrentar a mesma situação¿, diz o economista-chefe da consultoria americana Action Economics, Michael Englund. ¿O mercado está posicionado para o pior¿, acrescenta.

Com a queda do preço dos imóveis, muitos mutuários se vêem com hipotecas mais elevadas do que o valor da propriedade e deixam de pagar as prestações, que ficam mais caras com os reajustes a taxas variáveis. Como esses financiamentos estão securitizados nas mãos das entidades financeiras, a inadimplência reflete-se nos prejuízos que aparecem nos balanços trimestrais.

É essa a raiz do processo que praticamente congelou os mercados de crédito, uma vez que os participantes já não têm confiança para conceder recursos ou rolar dívidas dos bancos que carregam esses papéis e estão virando as costas até mesmo para papéis de elevada qualidade por temer a saúde financeira daqueles que estão fazendo o seguro dos títulos, com medo de que tenham sido contaminados pelas perdas nas hipotecas de segunda linha.

¿Ainda há muita ansiedade no mercado com o temor de que a deterioração que emergiu com o setor subprime vá atingir mais instituições financeiras¿, reconhece o economista Paul Ferley, do RBC Capital Markets. ¿Também há evidências de que o choque no setor financeiro já está pesando sobre a economia real, pela deterioração no mercado de trabalho.¿

Por isso, para os economistas há necessidade de que a administração Bush canalize seus esforços para o mercado de imóveis, para que os efeitos sejam sentidos no mercado de crédito e, finalmente, na economia real. No fim de semana, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, foi entrevistado em vários programas na TV americana. E em diversas ocasiões repetiu que ¿a prioridade é reduzir a instabilidade e o contágio (do mercado financeiro) na economia real¿.