Título: Rice discutirá ampliação do CS da ONU
Autor: Nogueira, Rui
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2008, Internacional, p. A13

Visita de secretária não deve resultar em apoio definitivo ao Brasil, mas pode impulsionar a candidatura brasileira

A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, faz hoje, em Brasília, uma das mais importantes reuniões envolvendo o Brasil e os Estados Unidos. A agenda entre os dois países está dividida em assuntos de consulta em alto nível, como a discussão sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU, e questões diplomáticas de rotina, como o acerto de ponteiros para a reunião de segunda-feira da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, onde o organismo tentará pôr um ponto final na crise envolvendo Equador, Colômbia e o grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O debate sobre o Conselho de Segurança (CS) não vai chegar a nenhuma posição definitiva, mas para o Brasil é um dos pontos mais importantes na relação com os EUA, pois a questão - concordaram duas fontes, do Itamaraty e da embaixada americana em Brasília - tem tido 'avanços pequenos, mas sensíveis'.

O desempenho diplomático e militar do Brasil no Haiti e na recente crise envolvendo Equador e Colômbia está 'amolecendo' a posição dos EUA sobre o Conselho de Segurança. Em público, nos fóruns internacionais, o governo americano ainda resiste à idéia de uma ampla reforma do CS e apóia apenas a inclusão do Japão como novo membro permanente. No bastidor, há sinais de que o governo americano poderá aceitar a ampliação do número de membros plenos.

Atualmente, o Conselho Permanente é formado por cinco membros (EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França e China) com direito a veto. Outros dez países integram o plenário, mas como membros rotativos, com mandato de dois anos.

Mesmo mantendo o direito de veto exclusivo aos chamados 'cinco grandes', os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush concordam que países de longa e sólida tradição em mediações diplomáticas são úteis para formar consensos no plenário do Conselho de Segurança da ONU. Segundo um diplomata brasileiro, são esses pontos de vista que ganharão hoje, na visita da secretária Condoleezza Rice, mais um 'polimento'.

A discussão prática do encontro bilateral vai ficar mesmo por conta da crise sul-americana deflagrada com a operação de militares colombianos, na madrugada do dia 1º, que invadiram o território equatoriano para atacar um acampamento das Farc. No bombardeio, 24 guerrilheiros foram mortos, entre eles Raúl Reyes, número 2 do grupo rebelde.

O chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado americana tratarão ainda da instabilidade política e social no Timor Leste, da situação no Haiti, da cooperação trilateral (Brasil, EUA e Guiné-Bissau; Brasil, EUA e São Tomé e Príncipe...), além de trocar informações sobre as viagens que os dois, separadamente, fizeram no mês passado por vários países do Oriente Médio.

As duas viagens foram feitas após a Conferência de Annapolis (EUA), em novembro, quando o governo Bush patrocinou uma reunião entre israelenses, palestinos, representantes de grandes potências e de vários países árabes para discutir o futuro do Oriente Médio. O Brasil foi um dos países que participaram do encontro de Annapolis, no qual palestinos e israelenses concordaram em retomar as negociações de paz que estavam paralisadas.

A Missão da ONU para a Estabilização no Haiti (Minustah) foi criada pelo Conselho de Segurança em abril de 2004 e é comandada pelo Exército brasileiro. Os EUA querem que o País mantenha o comando e o maior número possível de soldados no Haiti por considerar que o mais crucial dos três objetivos, o de restabelecer minimamente a segurança e a ordem pública, está sendo alcançado. A avaliação é que a Minustah também garantiu o restabelecimento do diálogo político, mas o Haiti ainda está longe da reconstrução econômica e social desejada, o terceiro objetivo.

A parte de segurança pública, segundo os relatórios do próprio governo dos EUA, passa por uma melhora sensível. Grandes favelas de Porto Príncipe, antes impenetráveis, hoje têm trânsito livre e estão sob controle das tropas da missão da ONU sob comando do Brasil.

RODADA DOHA

A parte comercial está fora da agenda de Condoleezza. As discussões sobre a Rodada Doha ficaram para uma visita da representante comercial Susan Schwab, que, segundo o Itamaraty, 'está sendo preparada'.

Condoleezza reúne-se hoje com Lula, às 11 horas, no Palácio do Planalto, e fica das 11h45 às 12h35 no Itamaraty. No início da tarde, a secretária americana viaja para Salvador, onde visitará o Pelourinho em companhia do ministro da Cultura, Gilberto Gil.

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