Título: Crise parece maior a cada dia, diz Mantega
Autor: Fernandes, Adriana; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B5

Ministro se mostra preocupado, mas defende queda da taxa de juros, na contramão da sinalização de alta do BC

Em tom mais grave do que o habitual, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a crise internacional atingiu grandes proporções. ¿A cada dia ela parece um pouco maior¿, comentou. ¿Alguns já começam a falar numa crise parecida com a de 29.¿ Ele avaliou, porém, que nem por isso será necessário elevar a taxa de juros. O ministro considerou ¿inevitável¿ que o mercado interno de renda variável seja afetado e previu que poderá ocorrer saída de capital externo do País para cobrir ¿buracos¿ de instituições estrangeiras.

No dia que entrou em vigor o pacote cambial adotado com a justificativa de prevenção contra a crise externa, Mantega antecipou que o governo poderá tomar novas medidas. ¿A economia ainda não sofreu nenhuma conseqüência do agravamento dessa crise¿, comentou. ¿Estamos atentos, vigilantes e tomaremos as medidas que forem necessárias, se isso acontecer.¿

Na contramão da sinalização de alta da taxa Selic dada pelo Banco Central, na semana passada, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Mantega deixou claro que, por ele, os juros deveriam cair: ¿Aqui no Brasil, não há necessidade. Pelo contrário, as taxas de juros estão baixando. Nos EUA, baixaram. A preocupação é com o nível de atividade e com o crédito¿.

O ministro, porém, evitou entrar no debate sobre o aquecimento da demanda interna. O tema foi reforçado pelo próprio presidente Lula, que alertou na semana passada para os riscos de o consumo elevado trazer de volta a inflação. Ao ser confrontado com a declaração de Lula e a ata do BC, Mantega foi interrompido por seu assessor de comunicação, que o aconselhou a terminar a entrevista.

Apesar da avaliação mais pessimista sobre a crise, o ministro disse que, ¿por enquanto¿, as conseqüências da crise no Brasil são periféricas, sem repercussão no nível de investimento, consumo e atividade da economia brasileira. ¿Estamos num porto seguro. É claro que algumas conseqüências acontecem aqui no Brasil, mas nós poderemos passar por essa crise com as menores conseqüências possíveis.¿

Para Mantega, o Brasil tem condições de forte e rápida recuperação, mesmo que ¿haja conseqüências maiores¿. ¿Acredito que as medidas do Fed, como a redução da taxa de redesconto em 0,25 ponto e a reunião de amanhã (hoje), onde certamente haverá nova queda das taxas de juros, poderão acalmar os mercados.¿ Ele ressaltou que os analistas internacionais são unânimes em dizer que o Brasil segue protegido.

¿O Brasil é hoje o local onde as coisas vão bem. As empresas estão sólidas, os bancos brasileiros estão sólidos, não estão envolvidos nessa crise. Portanto, até agora nós estamos resguardados¿, avaliou.