Título: Mercado agora reavalia o tamanho da crise
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B10

A compra do Bear Stearns pelo JP Morgan, por US$ 2 a ação ou cerca de US$ 236 milhões, levou o mercado a reavaliar o tamanho da crise nos Estados Unidos. ¿A percepção é que o problema pode ser mais grave do que o antecipado¿, disse o economista-chefe para América Latina do Banco Real e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman.

Na manhã de ontem, as ações do Bear eram negociadas em baixa de 86,83%, por US$ 3,95 por ação. Na sexta-feira, haviam fechado em US$ 30,85, com queda de 46%. ¿O goodwill do Bear Stearns virou fumaça¿, comentou Schwartsman, se referindo ao prestígio e à solidez do quinto maior banco de investimento dos Estados Unidos.

Schwartsman, no entanto, avalia que a compra foi positiva, especialmente no momento em que há falta de confiança generalizada nos bancos. ¿Com o JP Morgan, as contrapartes podem esperar que os contratos (do Bear) sejam honrados.¿

O economista acredita que os Estados Unidos estão a caminho da recessão, mas, por enquanto, não será profunda ou prolongada. Ele projeta crescimento de 1% a 1,5% para Produto Interno Bruto (PIB) americano este ano.

Para ele, o Federal Reserve (Fed) está fazendo tudo o que é necessário para evitar o agravamento da crise. Segundo ele, em um momento delicado como o atual é provável que o Fed siga agressivo e corte os juros em 1 ponto porcentual na reunião de hoje, para 2%, após ter reduzido em 0,25 ponto a taxa do redesconto, para 3,25%, no domingo.

Diferentemente de outros analistas, Schwartsman acha que o Fed começou a agir cedo com os cortes de juros, o que conta a seu favor. ¿O Fed agiu rápido¿, disse. Desde o início do afrouxamento monetário, em setembro de 2007, época em que estourou a crise de hipotecas de alto risco, a taxa dos Fed Funds caiu 2,25 pontos porcentuais, de 5,25% para os atuais 3%.

Para Schwartsman, o Fed vem atuando para evitar que a crise afete a solidez do sistema bancário e se torne sistêmica. ¿Mas muitas instituições vão deixar de existir¿, disse. Na contramão, há os problemas no sistema bancário e uma grave crise de confiança. ¿O canal de transmissão da política monetária (os bancos) está danificado¿, observou o ex-diretor do BC. Para ele, os bancos dos EUA terão que se recapitalizar.

O ex-diretor do BC avalia que o sistema bancário brasileiro está relativamente protegido, com a continuidade das receitas e lucros dos bancos este ano. ¿Não vejo a crise bancária afetar fortemente o Brasil¿, comentou.