Título: Risco para Brasil ainda não é dramático, dizem economistas
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B10

Visão dominante é que o País está resguardado de contágio mais violento

Ainda não será desta vez. Para a maior parte dos analistas, mesmo com o agravamento da crise bancária nos Estados Unidos, com a literal pulverização do banco Bear Stearns, a economia brasileira continua razoavelmente resguardada de um contágio mais violento. Por outro lado, é inegável que os ricos aumentaram, mesmo que não sejam dramáticos.

¿O real desvalorizou-se 4% e há mais volatilidade nas bolsas brasileiras e nos títulos de renda fixa de longo prazo, mas isso não parece ser algo que possa afetar a velocidade da criação de empregos e do investimento na economia brasileira¿, diz Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú.

Ele observa que o indicador fundamental para o Brasil, que é o preço das commodities, continua favorável, sem sinais de que ele vai despencar. ¿Se essa recessão for restrita aos Estados Unidos, dificilmente terá um impacto muito grande nas commodities¿, prevê Málaga.

O economista ressalva que, se a recessão americana durar vários trimestres e prolongar-se 2009 adentro, haverá de fato uma redução mais substancial das exportações asiáticas para os Estados Unidos, que poderia afetar o desempenho daqueles países. Ainda assim, continua Málaga, há o efeito compensador dos mercados internos da Ásia, que vêm trilhando um saudável ritmo de crescimento.

Roberto Padovani, estrategista para a América Latina do WestLB, acha que o agravamento da crise bancária americana ¿reabre a questão do descolamento da economia brasileira¿. Ele explica que, há uma semana, ainda via um quadro de recessão suave nos Estados Unidos, manutenção do crescimento chinês e o Brasil razoavelmente livre de contágio, beneficiado pela expansão asiática e também pela política econômica sólida que em praticado.

Com a quebra de um banco americano, porém, ele acha que os dados foram embaralhados de novo: ¿É um fato novo e importante porque lança dúvidas sobre os demais bancos¿. Para Padovani, uma crise desse tipo reduz a importância dos indicadores econômicos correntes da economia americana, que não estão tão ruins. O problema, ele explica, é que,¿diante da possibilidade de contração de crédito pela frente, os números do comércio em janeiro e fevereiro não são tão importantes¿. Ainda assim, pelo fato de a economia brasileira ser razoavelmente fechada, Padovani não vê ¿nada dramático¿ pela frente.

Márcio Garcia, professor de Economia da PUC-Rio, mostra-se um pouco mais preocupado. Ele nota que, se o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não conseguir evitar uma crise mais profunda e duradoura, o que é uma possibilidade bem real, é difícil acreditar que o Brasil não será afetado.

O principal canal para isso, diz ele, seria uma desaceleração chinesa provocada pela queda das exportações para os Estados Unidos. Isso, por sua vez, reduziria a pressão compradora que o gigante asiático exerce sobre commodities brasileiras.

Garcia acrescenta que a crise americana também eleva o custo internacional do capital e o Brasil, para continuar a crescer, vai depender da importação de poupança externa, já que a interna é insuficiente. ¿A melhor forma de nos preparamos para o que vem seria reduzir a expansão dos gastos públicos¿, ele conclui, lamentando que esse instrumento tenha sido posto de lado pelo governo.