Título: Instabilidade das bolsas deve durar todo o semestre
Autor: Dolis, Rosangela
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B11

Recuperação da Bovespa é esperada só para o segundo semestre, o que torna a renda fixa atraente

Especialistas em finanças pessoais acreditam que a instabilidade da Bolsa de Valores paulista (Bovespa), motivada pela turbulência no mercado financeiro mundial em decorrência da crise de crédito nos EUA, vai persistir todo o primeiro semestre, tornando o período arriscado para o investimento em ações e favorável às aplicações de renda fixa. São, porém, unânimes em afirmar que não é hora de vender ações da carteira.

Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios, diz que uma solução para esta crise vai demandar todo o primeiro semestre e uma firme atuação dos principais bancos centrais do mundo, em especial do Federal Reserve, o BC americano.

Já o segundo semestre tende a ser menos volátil, diz Leite. ¿Embora a economia real americana possa estar sob os efeitos desta crise financeira no período, aqui a situação deverá estar melhor, porque a economia local vai bem.¿ Ele projeta uma valorização de 15% a 20% para a Bolsa este ano, boa parte dela no segundo semestre.

Leite orienta o investidor a esperar a tempestade passar na renda fixa. ¿Como a chance de os juros caírem é zero e há uma possibilidade, ainda que pequena, de eles subirem, os fundos DI são os mais indicados.¿

Cláudio Carvajal Jr., coordenador dos cursos de administração da Faculdade Módulo, também acredita num primeiro semestre turbulento e num segundo semestre com chance de recuperação. ¿A cada indicador americano negativo o mercado vai reagir negativamente, e quem não for precisar do dinheiro que está aplicado em ações antes do fim do semestre deve deixá-lo onde está.¿

Para ele, se ocorrer melhora no exterior, a Bovespa se recupera no segundo semestre, porque a economia local vai bem, ¿com bom desempenho do consumo, inflação sob controle, boa oferta de crédito e perspectiva de crescimento de 4,5%¿.

O administrador de investimentos Fábio Colombo está mais pessimista. Para ele, como a Bolsa brasileira foi a que menos sofreu nesta crise americana, ela fica sujeita a maiores perdas. Por enquanto, ele diz, o alto preço das commodities, que beneficia ações de empresas exportadoras, está ¿segurando¿as bolsas. ¿Se essa alta não passar de uma bolha e estourar, as bolsas dos países emergentes vão cair ainda mais.¿

Ele orienta o investidor a não vender ações nesta baixa. Mas alerta que quem está exposto à Bolsa em quantia acima do que pode perder deve reduzir a exposição. ¿Ninguém sabe onde é o fundo do poço¿, diz. Já quem não tem ações, ou tem um baixo porcentual do capital aplicado nesse mercado, pode, diz Colombo, fazer compras aos poucos, enquanto persistir o período de queda.