Título: Salário repõe inflação em 96% dos acordos
Autor: Warth, Anne
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Economia, p. B13

Das 715 negociações salariais, apenas em 29 não houve reposição de perdas; segundo o Dieese, em 87,7% delas houve ganho real

Em 2007, 96% das 715 negociações salariais acompanhadas pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) asseguraram, no mínimo, a incorporação das perdas desde a data-base anterior. É o quarto ano consecutivo em que em mais de 70% das negociações analisadas houve reposição segundo a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Entre 2006 e 2007, a inflação média acumulada foi inferior de 3,9%. Das 715 negociações, apenas em 29 não houve reposição da inflação.

O número de categorias que obtiveram aumento real de salário, ou seja, reajuste superior à variação do INPC entre a negociação anterior e a data-base de 2007, foi de 627, o equivalente a 87,7%, melhor número da série, iniciada em 1996. Desse total, 70% apontaram aumento real de 1%. Somente 6% conquistaram aumento acima de 3%.

Os melhores resultados foram obtidos pela indústria. Do total, 94% das categorias tiveram aumento real acima do INPC. No comércio, o porcentual chegou a 85%, e no setor de serviços, a 81%. Na avaliação do Dieese, esse resultado tem ligação direta com os baixos níveis de inflação dos últimos anos: ¿À medida que o INPC acumulado se reduz, aumenta a proporção de negociações com reajustes iguais ou superiores ao índice¿.

AUMENTOS MENORES

Se o controle da inflação tem resultado em ganhos para os trabalhadores nas negociações salariais, o mesmo não se pode dizer do crescimento da economia brasileira. De acordo com o Dieese, 2007 foi o primeiro ano, desde que os estudos foram iniciados, em 1996, que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 5,4%, superou a inflação média do período (3,9%), mas os reajustes acima da inflação chegaram a menos categorias e foram bem mais modestos do que em 2006 - quando o PIB teve alta de 3,5% e a inflação média ficou em 3,8%.

Embora 87,7% das negociações tenham obtido reajustes acima da inflação, número semelhante ao de 2006 (86,3%), desse total apenas 1,6% das categorias conseguiu aumentos reais acima de 5%, ante 2,5% em 2006. O porcentual de categorias que conseguiu aumentos reais entre 4,01% e 5% foi de 3% em 2006; em 2007 caiu para 1,3%. Os aumentos reais entre 3,01% e 4% chegaram a 8,1% em 2006, mas ficaram em apenas 3,2% em 2007. Aumentos reais entre 2,01% e 3% foram conquistados por 23% das categorias em 2006, e por 14,8% em 2007.

Em 2007, 40,5% das categorias conseguiu aumentos reais entre 1,01% e 2% - ante 33,1% em 2006. Os aumentos reais entre 0,01% e 1% foram obtidos por 38,6% das categorias - ante 30,3% em 2006.

Segundo o Dieese, os números não preocupam, já que a pesquisa analisa apenas os ganhos salariais - não estão incluídos benefícios como Participação nos Lucros e Resultados (PLR), abonos salariais e ganhos indiretos, como aumento dos valores de auxílio-refeição ou redução da mensalidade do plano médico. Apesar disso, a entidade reconhece que a inflação, mesmo baixa e sob controle, continua a determinar a magnitude dos reajustes.

¿O crescimento do PIB cria um ambiente econômico mais favorável para as negociações, mas isso não está se traduzindo em ganhos salariais para os trabalhadores¿, admite o supervisor do escritório regional do Dieese em São Paulo, José Silvestre Prado de Oliveira.

Os bons resultados da economia brasileira já fazem parte do cálculo para o reajuste do salário mínimo. O projeto de lei 42/2007 estabelece que o mínimo deve ser corrigido com base na inflação do ano anterior, medida pelo INPC, mais o crescimento do PIB obtido há dois anos. Mas essa demanda não foi incorporada aos pisos de categorias profissionais, como defendem os trabalhadores, ou a qualquer outro tipo de negociação.