Título: Companhias aéreas regionais passam por período turbulento
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2008, Negócios, p. B20

Rico e Cruiser enfrentam problemas financeiros e lutam para não ter o mesmo fim da Pantanal

Ao mesmo tempo em que o setor aéreo brasileiro vive a expectativa do surgimento de uma nova companhia, sob o comando do fundador da americana JetBlue, David Neeleman, a aviação regional passa por um período turbulento. Das 13 empresas regionais que voam no País, uma - a Pantanal - deixa de voar no próximo dia 25, enquanto pelo menos outras duas, a Rico e a Cruiser, buscam desesperadamente uma solução para seus problemas financeiros para continuarem voando.

As empresas regionais representam hoje menos de 2% do fluxo de passageiros transportados no País. Mas cumprem um papel importante ao ligar cidades médias e pequenas aos principais centros. No ano passado, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou a apontar as empresas regionais como um dos principais instrumentos para se combater o duopólio no setor aéreo formado por TAM e Gol.

O problema é que algumas dessas empresas não vêm conseguindo se manter em operação. Executivos da Cruiser e da Rico apontam como alguns dos principais problemas que enfrentam a alta do querosene de aviação, motivada pela disparada nos preços do petróleo, e também exatamente a concorrência com a Gol e a TAM.

A Rico Linhas Aéreas, com atuação na Região Norte, registrou queda de 54,4% na oferta de assentos em seus aviões e redução de 55,8% na quantidade de passageiros transportados no primeiro bimestre. Em todo o ano passado, a empresa viu seu fluxo de passageiros cair 23,4%. O desempenho ruim este ano, segundo o presidente da companhia, Atila Yurtsever, se deu porque atualmente a Rico voa com apenas um avião, um Boeing 737-200. Sua frota total é composta por sete aeronaves.

¿Eu acho que todo mundo corre o risco (de encerrar as operações). Não é uma coisa que se restringe somente à BRA e à Pantanal¿, disse Yurtsever ao ser questionado se a Rico corria o risco de fechar as portas. No entanto, o executivo afirma que já equacionou a dívida total da empresa, de R$ 12 milhões, e contratou profissionais do mercado para a diretoria. Também teve de demitir em torno de 40 funcionários. Restaram 200. ¿A empresa não vai parar¿, garante o presidente da Rico.

O consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio, que na década de 70 trabalhou para a criação do modelo brasileiro de aviação regional, considera que não se trata de uma crise desse segmento do transporte aéreo de passageiros. ¿As companhias aéreas regionais, de uma forma geral, têm uma administração muito incompetente¿, afirma Sampaio. Mas ele cita, como exemplo de iniciativas bem-sucedidas, a Trip, a maior empresa entre as regionais, que recentemente promoveu uma fusão de operações, malha aérea e frota com a Total.

A Cruiser Linhas Aéreas, com sede em Curitiba, mas com atuação em Mato Grosso e no Pará, não operou em dezembro. Em janeiro, a empresa voltou à atividade, mas, em fevereiro, ficou novamente no chão. ¿Estamos passando por um processo de reestruturação de aeronaves. O avião que estamos usando não está sendo adequado¿, disse o presidente da Cruiser, Vinicius Lara. Ele se referiu ao LET-410, turboélice fabricado na República Checa, para 19 passageiros.

Lara disse que negocia com diversos fabricantes de aviões a substituição da frota e que a Cruiser deve voltar a operar ainda no final deste mês. Segundo ele, a dívida da empresa, não divulgada, já está toda equacionada. Além disso, garante estar conversando com investidores um aporte em torno de R$ 3,5 milhões para a empresa poder voar novamente. ¿Não trabalho com essa hipótese (de a Cruiser parar de voar definitivamente)¿, disse.