Título: Especialistas elogiam mudança no Bolsa-Família, mas pedem recursos
Autor: Scarance, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2008, A12, p. A12

Bispo e cientista social dizem que medidas, se levadas adiante, podem ser a `porta de saída¿

A porta de saída do Bolsa-Família pode estar sendo aberta pelo governo com as medidas anunciadas anteontem, mas é necessário garantir recursos. A opinião vem de dois especialistas que até hoje criticavam a posição do governo de apenas destinar ajuda financeira aos necessitados, sem apontar oportunidades de sair da dependência do Estado - o cientista social Ivo Poletto, ex-assessor do Fome Zero, precursor do Bolsa-Família, e o arcebispo da Paraíba, d. Aldo Pagotto.

D. Aldo gerou polêmica, em novembro de 2006, quando chamou o Bolsa-Família de ¿programa que vicia¿ e declarou que ¿várias famílias se contentam com o mínimo¿. ¿Sempre defendemos que fosse um trampolim, empurrão para políticas estruturantes e de inclusão social¿, comentou ontem o arcebispo, otimista com o anúncio do governo, mas ainda à espera de mais detalhes. ¿Se for assim mesmo, dou os parabéns. Essas medidas de que estão falando são aquelas que sempre defendemos. Acho muito boas, até profiláticas.¿

Em evento de comemoração pelos quatro anos do Ministério do Desenvolvimento Social, o titular da pasta, Patrus Ananias, anunciou cinco principais mudanças para tirar as famílias da tutela federal. São elas: revisão do benefício a cada dois anos, excluindo famílias que tenham conseguido renda estável; programas de geração de renda e crédito; abertura de contas bancárias, sem tarifa, com direito a pequenos empréstimos; melhorias em centros comunitários de produção; compra de alimentos de agricultores familiares.

CURTA DURAÇÃO

Mais crítico que o arcebispo, Poletto cobra: ¿Essas medidas não dependem de ser anunciadas para serem efetivas, mas de recursos.¿ Ex-assessor do Fome Zero, Poletto deixou o cargo justamente por insistir em que o programa fosse montado de modo a ter curta duração, para não se tornar assistencialista.

O cientista social critica o prazo de dois anos estipulado pelo governo para revisão do cadastro. Acha que a família deveria ser excluída assim que conseguisse renda. Ele quer saber, ainda, como a nova fase será levada adiante: ¿Quantos recursos serão destinados? Se, de fato, tiver recursos significativos, são portas de saída.¿

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