Título: Rice: fronteira não pode servir para abrigar terrorista
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2008, Internacional, p. A13

Em Brasília, secretária propõe cooperação para garantir a segurança em todas as fronteiras da América do Sul

Os EUA propuseram ontem, em nome do combate ao terrorismo, que a América do Sul relativize o valor das fronteiras. Na prática, a proposta, que foi feita em Brasília pela secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, significa a importação para o espaço sul-americano do conceito de ataque preventivo em nome da segurança contra atos terroristas.

¿O Estado tem a obrigação de assegurar que faz todo o possível para evitar que os terroristas usem seu território. Esse problema foi identificado pela ONU¿, disse Condoleezza em entrevista no Itamaraty. ¿As fronteiras são importantes. Mas não podem ser usadas como um esconderijo para terroristas que, depois, vão matar civis inocentes.¿ Washington parte do princípio de que, embora a recente crise entre a Colômbia e o Equador tenha sido contornada no âmbito diplomático, as ações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) continuam a criar instabilidade política e econômica na América do Sul. O governo brasileiro não se manifestou sobre a proposta de Condoleezza, mas a posição oficial do País em fóruns internacionais - como na última reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), no dia 5 - é a de defender a inviolabilidade das fronteiras, ¿seja qual for o motivo¿. Condoleezza também tratará do novo conceito de fronteira na visita que faz hoje ao Chile. O assunto deve ser debatido na reunião de chanceleres da OEA, em Washington, no dia 17, na qual será apresentado o relatório da organização sobre o ataque colombiano do dia 1º contra as Farc em território equatoriano.

¿Os esforços feitos pela OEA nas últimas semanas foram importantes e devem prosseguir¿, afirmou Condoleezza, referindo-se à mediação para reduzir a tensão entre Colômbia e Equador. ¿Talvez agora seja o momento de a região examinar como pode garantir a segurança em todas as fronteiras. E os EUA vão ser parceiros dessa iniciativa.¿

Em Brasília, Condoleezza encontrou-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler Celso Amorim. A visita ocorreu um dia depois de o presidente americano, George W. Bush, ter denunciado vínculos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com as Farc, e criticado o ¿comportamento provocativo¿ do líder venezuelano.

Condoleezza teve, entretanto, o cuidado de assinalar que os EUA ¿não têm inimigos permanentes¿ nem buscam aliados apenas entre os que demonstram afinidades ideológicas: ¿Queremos trabalhar bem com qualquer Estado que atue de modo responsável no que diz respeito à democracia, à segurança, ao desenvolvimento econômico e à justiça social.¿

A secretária disse que toda a cooperação nas Américas para o combate ao terror é benéfica e indicou que aprova a proposta de Lula em criar um Conselho Sul-Americano de Defesa.

Condoleezza reafirmou que o Conselho de Segurança (CS) da ONU precisa ser reformado, mas ela não manifestou apoio a uma vaga permanente para o Brasil - iniciativa que também não era esperada pleo Itamaraty. Apesar disso, a diplomacia brasileira pôde anotar três minúsculos avanços na posição americana: os elogios da secretária à atuação do Brasil na solução de conflitos recentes na região, sua posição favorável à atuação do País nos debates de temas mundiais e regionais e sua declaração de que os EUA continuam ¿abertos¿ a essa discussão.

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