Título: Enérgica demais e quase terrorista, diz Delfim
Autor: Fernandes, Adriana; Fernando Nakagawa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2008, Economia, p. B1

Para ex-ministro, BC exagera ao imaginar que o País terá `inflação devastadora¿ a curto prazo

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, é ¿enérgica demais e bate quase no terrorismo¿. A afirmação é do ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, Delfim Netto, em entrevista exclusiva ao Estado. Segundo ele, o Banco Central exagera ao imaginar que o País vai apresentar no curto prazo ¿uma inflação devastadora¿.

Segundo Delfim, essa avaliação é ¿prisioneira da idéia¿ de que o Brasil não pode crescer acima de 4,5%. ¿O BC está ameaçando elevar os juros. Não sou homem que acredite que uma ameaça não tenha conseqüências, principalmente vindo de uma instituição tão séria.¿

Para o ex-ministro, a inflação está sob controle e deve voltar ao ¿equilíbrio¿. Ele acredita que o IPCA subirá este ano 4,5%, marca que é o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O ex-ministro não afirma explicitamente que o BC vai elevar os juros na próxima reunião do Copom, marcada para os dias 15 e 16 de abril. ¿A ata sintetiza o problema de que a vovó subiu no telhado. Ela pode escorregar ou se segurar na calha.¿

Na opinião de Delfim, o Brasil deve crescer entre 5% e 6% neste ano, o que indica que não será severamente afetado pela recessão dos Estados Unidos. Segundo ele, somente 2,5 pontos porcentuais da expansão deste ano devem vir do ¿carry over¿ (carregamento) da alta de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2007.

Para Delfim, as importações devem aumentar pelo menos 35% neste ano, enquanto as exportações devem ter alta mais modesta, perto de 10%. Ele prevê um superávit de US$ 15 bilhões, bem abaixo dos US$ 40 bilhões de 2007. ¿Bem, o saldo comercial vai cair. E daí? O déficit de contas correntes vai atingir US$ 15 bilhões. E qual é o problema? Nenhum.¿

O ex-ministro destacou que o Brasil ¿faz parte do mundo¿, e a tese de que o País está descolado da crise dos EUA e de suas conseqüências no cenário internacional é ¿uma idéia absurda¿.

Segundo Delfim, o grande volume de reservas, que deram ao País o status inédito de credor externo líquido com saldo de US$ 6,9 bilhões, vai amortecer os problemas vindos do exterior, que não prejudicarão de forma expressiva o ritmo da expansão do nível de atividade doméstica neste ano.

O ex-ministro ressalta, porém, que o câmbio supervalorizado não é favorável à economia, pois traz impactos às exportações no longo prazo, como ocorreu no governo FHC. ¿No caso do presidente Lula, isso não deve ocorrer. Ele é um homem dotado de extraordinária sensibilidade.¿

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