Título: BC vê demanda robusta e indica que juro vai subir
Autor: Fernandes, Adriana; Fernando Nakagawa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2008, Economia, p. B1

Ata do Copom deixa clara a preocupação com a alta do consumo; última reunião já poderia ter elevado a Selic

O Banco Central (BC) deixou claro ontem, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que é cada vez mais iminente o risco de aumento da taxa Selic para conter o impacto do aquecimento da demanda nos preços. A confissão do BC de que foi considerada a possibilidade de elevação do juro na reunião da semana passada alimentou as expectativas de que a Selic poderá subir já em abril.

Com viés agressivo e ainda mais conservador, a ata revelou que o aumento dos juros foi cogitado para reduzir o ¿descompasso¿ entre o ritmo do crescimento da demanda e da oferta, movimento que pode desencadear pressões inflacionárias com repasse de preços, até mesmo de serviços.

A ata diz que o País vive hoje com uma ¿demanda doméstica robusta¿, que ¿não mostra sinais de arrefecimento¿ nem mesmo na passagem de 2007 para 2008. Segundo o texto, a elevação dos juros poderia contribuir para reforçar a ¿ancoragem das expectativas¿, ou seja, evitar que as projeções do IPCA se afastem das metas.

Para o Copom, é relevante o risco de a expansão da demanda comprometer o cenário positivo para a inflação. Por isso, advertiu, é preciso prudência. ¿Entretanto, prevaleceu o entendimento de que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória de inflação justificaria a manutenção da taxa no patamar atual¿, diz a ata, se referindo à decisão do Copom de manter os juros em 11,25% ao ano.

O Copom alertou que a expansão da demanda se acelerou neste início do ano e pode ficar ainda mais robusta com o aumento dos gastos do governo (transferências) e o efeito defasado na atividade econômica dos cortes de juros feitos em 2007. Também advertiu que o crescimento dos investimentos não tem sido suficiente para conter o aumento do uso da capacidade instalada da indústria.

O recado da ata, divulgada em meio às turbulências da crise externa e à repercussão negativa das medidas cambiais anunciadas na véspera pelo Ministério da Fazenda, contribuiu para a disparada dos juros futuros e reforçou o nervosismo. Os investidores reviram as suas projeções, mas a aposta na alta dos juros já na reunião do Copom em abril não é unânime.

¿A economia tem crescido em ritmo mais forte que o suportado e isso tem elevado gradualmente as expectativas de inflação¿, disse o economista-chefe do Banco Safra, Eduardo de Faria Carvalho. Para ele, a Selic começará a subir em abril e deve terminar o ano em 13,25%, dois pontos porcentuais superior à atual. O consultor de análises econômicas do Itaú, Joel Bogdnaski, acredita que o juro deve subir entre 1 ponto e 1,5 ponto até o fim do ano.

Para o economista do Safra, a alta de até dois pontos porcentuais deve levar a economia para ¿ritmo mais sustentável de crescimento¿, que deve variar de 4,5% a 5% ao ano. ¿Se olharmos os números do quarto trimestre, o PIB cresceu, na margem, algo próximo de 6%. E a atividade registrada no começo do ano mostra que esse ritmo pode ter se acelerado¿, explica. Carvalho diz que apenas uma seqüência de indicadores que apontem para o arrefecimento da demanda poderia reverter o quadro da Selic.

O quadro negativo traçado pelo Copom é reforçado pelo cenário externo: avaliações negativas sobre a economia dos Estados Unidos se disseminando e o aumento do preço do petróleo e das commodities (sobretudo de grãos). Esse último alerta foi incluído com ênfase na ata, principalmente porque investidores internacionais estariam ampliando as compras de commodities para evitar prejuízos com uma aceleração da inflação.

Apesar do conservadorismo, a ata mostra que a inflação se desacelerou e as projeções para o IPCA em 2008 recuaram entre as reuniões de janeiro e março. A projeção de reajuste de energia caiu de 3,4% para 1,1% em 2008. Mesmo com o preço mais alto do petróleo, foi mantida a previsão de reajuste zero da gasolina e do bujão de gás. A estimativa de IPCA para 2009, no entanto, aumentou, embora permaneça abaixo da meta de 4,5%. A ata ressalta que a avaliação do cenário para decisões sobre o juro deve privilegiar indicadores prospectivas de inflação e não valores correntes.

PRINCIPAIS PONTOS

ALTA DOS JUROS O Copom chegou a discutir, na última reunião, o aumento da taxa de juros.

Ao reduzir o consumo, o aumento dos juros contribuiria para diminuir o descompasso entre o crescimento da demanda e a ampliação da oferta de bens e serviços.

A elevação dos juros contribuiria, assim, para ¿ancorar¿ as expectativas de inflação para 2008 e no médio prazo.

DEMANDA X OFERTA

A demanda doméstica cresce a taxas robustas e continua colocando em risco o cumprimento da meta de inflação.

Entre os fatores que têm provocado o aquecimento da demanda estão as ¿transferências fiscais¿ - ou seja, gastos públicos.

O investimento das empresas vem aumentando, mas o ritmo não tem sido suficiente para acompanhar o crescimento da demanda. Restrições de oferta podem levar a repasses de preços.

Há uma probabilidade ¿relevante¿ de que pressões inflacionárias inicialmente localizadas se disseminem pela economia.

CENÁRIO EXTERNO

O preço do petróleo elevou-se consideravelmente e continua volátil.

Os preços das commodities, especialmente grãos, também vêm tendo elevação forte.

Embora o balanço de pagamentos do Brasil não represente risco inflacionário iminente, aumentaram as pressões inflacionárias em países emergentes e também em economias maduras.

Consolida-se quadro de recessão nos Estados Unidos. Avaliações negativas vêm se tornando mais disseminadas.

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