Título: Túnel sob a Luz
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2008, Notas e Informação, p. A3

A obra mais importante do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevista para São Paulo, o trecho norte do Ferroanel - obra considerada, com o Rodoanel, essencial para aliviar o tráfego de caminhões pesados pelas marginais e eliminar um gargalo logístico que ameaça o crescimento da região metropolitana -, não deve sair do papel tão cedo. Em lugar dessa obra, orçada em R$ 1 bilhão, o governo do Estado prefere uma solução mais barata: a construção de um túnel ferroviário sob a Estação da Luz e de linhas paralelas às utilizadas atualmente pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Para o contribuinte, a solução mais barata é sempre a melhor. Mas para a população da Grande São Paulo o que interessa é que se encontre uma solução para o problema do transporte de carga, que apenas passa pela região. Por falta de uma alternativa ferroviária competitiva, em termos de custo e eficiência, boa parte dessa carga ¿de passagem¿ circula pela Grande São Paulo em caminhões, congestionando as avenidas conectadas à malha de rodovias, como as marginais e a Avenida dos Bandeirantes.

O Ferroanel foi planejado para permitir a separação, na Grande São Paulo, das linhas utilizadas para transporte de passageiros das que servem ao transporte de carga. O primeiro projeto da obra foi elaborado no fim da década de 1960, mas apenas uma parte dele foi concluída. Por causa disso, muitos trens de carga procedentes do interior do Estado e de outras regiões do País e que se dirigem ao Porto de Santos precisam cruzar a zona central da cidade de São Paulo, utilizando as linhas que servem ao transporte de passageiros. Assim, o transporte ferroviário de carga na cidade fica na dependência de ¿janelas¿ para utilização das linhas durante o dia, ou aguardando a madrugada, o que lhe reduz a eficiência e eleva os custos.

No médio prazo, o crescimento do transporte ferroviário tornará esse compartilhamento das linhas impossível. A MRS, a empresa privada de transporte de carga que opera a ferrovia na região, transportou no ano passado, em toda a sua malha, 126 milhões de toneladas de carga. Desse total, 26 milhões de toneladas trafegaram pelo Estado de São Paulo e 16 milhões passaram pela capital. As projeções da empresa são de que, em cinco anos, a carga que passa pela cidade de São Paulo duplicará.

A CPTM, por sua vez, que transportou 800 mil passageiros por dia em 1992, ano em que foi criada, agora transporta diariamente mais de 1,7 milhão de pessoas e, daqui a dois anos, deverá transportar 3 milhões nos dias úteis.

O primeiro trecho construído do Ferroanel liga a Estação de Suzano à de Rio Grande da Serra, nas regiões leste e sudeste da Grande São Paulo. O segundo trecho, na região sul, liga as Estações de Evangelista de Souza e Mairinque. O tramo norte do Ferroanel terá trecho de 66 quilômetros, partindo do pátio da Estação Engenheiro Manoel Feio (Itaquaquecetuba) e atravessando os municípios de Guarulhos, Mairiporã, Nazaré Paulista e Atibaia, até alcançar o município de Campo Limpo Paulista, na antiga Estrada de Ferro Santos a Jundiaí.

Em lugar dessa obra, o governo de São Paulo discute uma alternativa que custará cerca de R$ 170 milhões e não exigirá desapropriações. É a abertura do túnel sob a Estação da Luz e a implantação de linhas paralelas às utilizadas pela CPTM, nos trechos Suzano-Manoel Feio e Ipiranga-Rio Grande da Serra. Isso daria maior fluidez ao transporte de cargas e de passageiros.

No caso dos trens de passageiros, o governo paulista considera necessário investir em segurança e sinalização, para reduzir o intervalo entre viagens e a distância entre composições. Esses investimentos são indispensáveis para dar ao sistema de transporte ferroviário de passageiros maior pontualidade. O objetivo é que, de cada 100 trens, 90 circulem no horário.Também será necessário oferecer aos passageiros trens e estações mais confortáveis.

Feito isso, os passageiros da CPTM contarão com um serviço equiparável ao de um metrô de superfície. E a sobrecarregada malha viária de São Paulo poderá ter algum alívio.

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