Título: Rio admite epidemia e desculpa-se por dengue
Autor: Figueiredo, Talita
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2008, Vida&, p. A16

Secretário estadual anuncia medidas para conter a doença

Ao admitir que o Estado do Rio vive uma epidemia de dengue, o secretário Estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, pediu ontem desculpas à população pelas filas nas emergências das unidades hospitalares. Ele recomendou às vítimas da doença que tenham paciência e esperem o atendimento, já que o mais importante é receber o tratamento adequado ainda na fase inicial. Já são 48 mortes no Estado neste ano, 30 delas na capital.

Só no município do Rio, foram contabilizados 3.286 casos novos entre quarta-feira e ontem. Desde janeiro, são 23.555 infectados na capital e pelo menos 35.901 no Estado. Ontem, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou mais uma morte: uma menina de 14 anos morreu em um hospital particular, em Jacarepaguá, na zona oeste.

¿A orientação é esperar para ser atendido. Temos que atender todos os pacientes, mesmo que demore. A demora está acontecendo nas redes pública e privada porque, num momento de epidemia, é isso que acontece. Temos consciência de que as emergências estão superlotadas, hospitais cheios, nossas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) também estão cheias, mas é fundamental que todos os pacientes sejam atendidos¿, disse Côrtes, durante a inauguração de dez leitos de UTI pediátrica para tratamento da dengue no Hospital Pedro II, em Santa Cruz, zona oeste.

Ao contrário do prefeito Cesar Maia, que negou anteontem uma epidemia na cidade, acrescentando que a doença está em ritmo decrescente no Rio, o secretário afirmou que ¿prefere lidar com a realidade atual¿. Diariamente, são registrados cerca de mil novos casos na cidade. ou seja, quase 42 por hora.

De acordo com Côrtes, os números de notificações estão aumentando por conta da confirmação por exames de pessoas que foram contaminadas nas últimas semanas. O processo da notificação do hospital à secretaria demora pelo menos 10 dias. Ele disse que a infecção pela dengue não está controlada.

¿Os epidemiologistas dizem que a tendência até maio é que haja uma queda no número de casos. Mas isso não quer dizer que não estamos vivendo uma crise. A doença não está controlada¿, afirmou. Além dos leitos de pediatria - das 48 mortes no Estado, 27 foram de crianças -, o secretário anunciou a criação de outros 80 leitos de enfermaria no Hospital Anchieta, no Caju. Para a semana que vem, ele prometeu o lançamento de um Disque-Dengue, um telefone 0800 para receber denúncias de possíveis focos do mosquito. Ele também vai inaugurar centrais de hidratação na zona oeste, onde há mais infectados.

GABINETE DE CRISE

O secretário não soube precisar que tipos de ações serão tomadas pelo gabinete de crise criado anteontem pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Segundo o ministério, os secretários de Vigilância em Saúde, Gerson Penna, e de Atenção à Saúde, José Noronha, serão os responsáveis por acompanhar a situação no Estado.

¿Haverá uma presença física maior dos secretários (Noronha e Penna) e vamos poder discutir ações. Se eu precisar de uma aprovação do ministério para uma publicação de portaria, não fica dependendo de tramitação de documentos para Brasília.¿ Hoje, Côrtes se reunirá com o secretário de Vigilância em Saúde do ministério.

O pesquisador Hermann Schatzmayr, do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), avalia que o Rio vive hoje uma epidemia ainda em ¿seu ponto alto¿. Cerca de 60% dos casos são de dengue tipo 3, o mais virulento, e 40%, do tipo 2. O tipo 3, do sul da Índia, foi o responsável pela grande epidemia no Brasil em 2002.

Schatzmayr defende uma ação mais eficaz de prevenção e afirma ser ¿inadmissível¿ morte por dengue. ¿Deveriam focar as áreas onde há mais casos e ir de casa em casa. Tem que botar um sistema de emergência (para internação). A pessoa atendida de maneira eficaz, mesmo com hemorrágica, não morre.¿ COLABOROU FELIPE WERNECK

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