Título: Sob tensão da ação chinesa no Tibete, Taiwan escolhe hoje novo presidente
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2008, Internacional, p. A10

Repressão de Pequim a tibetanos deve afetar popularidade de candidato taiwanês que defende aproximação

O confronto entre forças policiais chinesas e manifestantes tibetanos aumenta o grau de incerteza das eleições presidenciais de hoje em Taiwan, a ilha que a China diz pertencer a seu território. A repressão dos rebeldes tibetanos pode ter afetado o favoritismo de Ma Ying-jeou, do Partido Nacionalista (Kuomintang), defensor do fortalecimento dos laços com Pequim. Ma liderava a corrida por uma diferença que variava de 6 a 30 pontos porcentuais, de acordo com pesquisas divulgadas até o dia 12 - quando se encerrou o prazo para publicação de sondagens.

A violenta reafirmação do controle chinês sobre o Tibete foi explorada pelos adversários de Ma como uma ameaça à jovem democracia de Taiwan, que realiza hoje a quarta eleição presidencial direta de sua história - a primeira foi em 1996.

A eventual vitória de Ma significará a volta ao poder dos nacionalistas que fugiram da China em 1949 e instalaram um novo regime na ilha, sob o comando de Chiang Kai-chek. Nos últimos oito anos, Taiwan foi governada pelo Partido Democrático Progressista, favorável à independência. Mas o candidato da legenda, Frank Hsieh, tem uma posição mais moderada que a do atual presidente, Chen Shui-bian, radical defensor da independência.

Os constantes choques entre Chen e o governo de Pequim acabaram minando sua popularidade - também afetada por escândalos de corrupção que envolveram a mulher dele. Depois da derrota nas duas últimas eleições presidenciais, o Kuomintang obteve uma vitória avassaladora na eleição legislativa de janeiro, vista como uma prévia da disputa presidencial.

Apesar da tensa relação política, China e Taiwan têm laços econômicos crescentes. Os taiwaneses investiram nos últimos 20 anos cerca de US$ 100 bilhões no continente, onde possuem 70 mil empresas.

Histórico adversário dos comunistas, o Kuomintang é visto como o maior aliado de Pequim na disputa. Ma defende o estabelecimento de um ¿mercado comum¿ entre a ilha e a China e é favorável à manutenção da situação atual - nem independência nem reunificação.

Mesmo Frank Hsieh é favorável à melhora na relação com o continente e chegou a ter posições mais pró-China do que seu adversário. Num escorregão durante a campanha, Ma insinuou que poderia apoiar o boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, posição rejeitada por Frank Hsieh.

Qualquer que seja o vencedor, não há dúvida de que a relação entre os dois lados do Estreito de Taiwan terá um grau de tensão menor que o dos últimos oito anos, durante os quais a retórica separatista de Chen causou reações violentas de Pequim.

Taiwan é governada de maneira autônoma, mas não tem o status de país na comunidade internacional. Aliado incondicional dos EUA no Pacífico, Taiwan perdeu em 1971 a cadeira que tinha no Conselho de Segurança da ONU. Seu lugar foi transferido para a República Popular da China, liderada na época por Mao Tsé-tung. Em protesto, Taiwan deixou a organização internacional.

Além da eleição presidencial, os taiwaneses vão votar em dois referendos, que decidirão se a ilha deve pleitear uma cadeira própria na ONU, movimento considerado inaceitável pela China, já que significaria a independência formal da ilha.

Os líderes chineses repetem que estão dispostos a ir à guerra caso Taiwan siga esse caminho. Segundo o Pentágono, a China possui entre 900 e 1.070 mísseis balísticos capazes de atingir a ilha.

Na quarta-feira, os americanos enviaram à região de Taiwan dois porta-aviões, que farão exercícios durante as eleições. Os EUA têm posição semelhante à do Kuomintang - em defesa da manutenção do status quo - e vêem o referendo sobre a ONU como uma provocação. Uma lei da época da Guerra Fria obriga Washington a defender militarmente Taiwan em caso de ataque externo - obviamente, da China.

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