Título: Para a indústria, restringir crédito é erro de avaliação
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2008, Economia, p. B4
Representantes do setor negam que demanda esteja superaquecida e pressionando a inflação para cima
A idéia do governo, de dar um freio no crescimento do consumo, restringindo a expansão do crédito, foi criticada por representantes do setor produtivo. Medidas que estariam em estudo, como a limitação dos prazos para financiamento de automóveis, não se justificariam, na opinião da maioria dos empresários. Eles alegam que não há indícios de superaquecimento da demanda e, conseqüentemente, de pressão inflacionária.
¿Essa conversa de escassez de oferta é bobagem e os índices de preços mostram que não há nenhuma distorção quanto à inflação¿, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Além dos investimentos que estão sendo feitos para aumentar a capacidade de produção, Skaf argumenta que vivemos em um mercado aberto, onde se pode importar de tudo de qualquer parte do mundo. ¿E o câmbio sobrevalorizado ainda barateia artificialmente o custo das importações¿, afirma.
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, assessor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), observa que houve um aumento de fato no grau de utilização da capacidade instalada da indústria nacional no ano passado, ressaltando, porém, que o nível de utilização dessa capacidade não aumentou nos últimos cinco meses. ¿É sinal de que o investimento, que vem com um certo atraso, já se incorporou à capacidade produtiva.¿
Gomes de Almeida cita que a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou, na quarta-feira, os resultados de uma pesquisa em que os empresários da indústria informaram que a capacidade de produção deverá crescer 11% este ano. ¿A menos que tivéssemos um crescimento chinês, o produto industrial não vai aumentar na mesma proporção da capacidade instalada.¿
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, se os índices de preços confirmarem as informações de que estaria havendo uma pressão inflacionária, seria mais saudável para a economia o governo tentar controlar um pouco a expansão do crédito do que recorrer à elevação dos juros.
Além de desestimular os investimentos, Monteiro Neto frisa que a alta dos juros teria efeito negativo secundário sobre a taxa de câmbio e ampliaria o custo fiscal da política monetária.
¿Se é para evitar o aumento da Selic, acho que vale qualquer coisa, menos vender a alma ao diabo¿, diz Gomes de Almeida. No entanto, ele acha que não há a menor necessidade de conter o consumo, pois entende que não há pressão inflacionária de demanda. ¿Há uma ameaça do BC de aumentar a taxa de juros, mas não se pode querer corrigir um erro com outro erro.¿
Para ele, o crédito farto tem desempenhado o papel de contrabalançar a perda de rentabilidade na exportação. ¿Só não há uma avalanche de reclamações e oposição ao governo em relação ao câmbio porque o mercado interno está aquecido.¿
FRASES
Paulo Skaf Presidente da Fiesp
¿Essa conversa de escassez de oferta é bobagem e os índices de preços mostram que não há nenhuma distorção quanto à inflação¿
Júlio Sérgio Gomes de Almeida Assessor do Iedi
¿Só não há uma avalanche de reclamações e oposição ao governo em relação ao câmbio porque o mercado interno está aquecido¿
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