Título: Dos óbitos, apenas 2 foram em nossa rede
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2008, Vida, p. A17

Entrevista. Cesar Maia: prefeito do Rio de Janeiro (DEM). Para ele, o que diferencia este ano dos anteriores é a existência dos tipos 2 e 3 do vírus, cujo risco de mortalidade é maior

Alexandre Rodrigues

Com um surto de dengue no Rio, o prefeito Cesar Maia (DEM) recusa as críticas do Ministério da Saúde à gestão da rede básica e ao combate à dengue. Em entrevista ao Estado por e-mail, ele diz não ver relação entre a baixa cobertura do Programa Saúde da Família no Rio e os casos da doença. Maia ressalta que a maior parte das mortes ocorreu em unidades particulares.

Houve no Rio uma mobilização especial contra a dengue em 2007 por causa do Pan. O que fez com que o Rio tivesse um resultado tão desfavorável no combate à doença em relação a outras cidades?

A questão que diferencia este ano dos anteriores não é a quantidade, mas a existência dos tipos 2 e 3 do vírus, cujo risco de mortalidade é maior. Se você fizer uma série por Estado de 20 anos verá que a concentração de casos oscila. Em 2007, foi em Mato Grosso do Sul. Com os riscos de mortalidade, o treinamento do pessoal de atendimento deve ser intenso. Por exemplo: uma criança morreu com diagnóstico de virose numa clínica privada na Tijuca. Esse filtro deve ser extremamente cuidadoso. E repassado aos demais Estados como prática para este e os próximos anos.

O alto número de mortes é atribuído a deficiências na rede de atendimento básico. A prefeitura fará treinamento de médicos?

Todos os nossos médicos e enfermeiros foram treinados. Por isso, de todos os óbitos na cidade, apenas dois foram em nossa rede. Estamos levando o treinamento ao setor privado.

O ministério atribui parte das complicações com dengue no Rio à baixa cobertura do Programa Saúde da Família. O sr. concorda?

Isso (o PSF) não resolveria os tipos 2 e 3 (da dengue). Todos sabem da necessidade de participação coletiva. O ministério, para não ser irresponsável, deveria comprovar isso com um corte de concentração de contaminação em moradores de favelas não cobertas. Fizemos por amostragem e não se confirmou.

Por que é tão baixa a cobertura do PSF no Rio?

Os padrões de saúde, nutrição, acesso a escola no Rio são muito diferentes de outras regiões. A equação não é a mesma. 100% das crianças pobres (no Rio) estão na escola pública desde os 4 anos, com cobertura de saúde, nutricional e informação a todas as famílias por reuniões, boletins e a revista dirigida às mães. Temos uma capilaridade em nossos serviços que permite cobrir e informar. Aplicar no Rio uma equação igual ao interior de certas regiões é bobagem. Eles (ministério) deveriam olhar a série de incidência de dengue nos últimos dez anos e ver se a tese explica algo. Nós apoiamos, não transferimos problemas. Se o ministério abrisse os quatro andares do Hospital dos Servidores do Estado e a emergência do Hospital do Fundão, colocasse leitos e pediatras, ajudaria muito.

Quem é: Cesar Maia

É prefeito do Rio pelo DEM

Em 2004, foi reeleito

Foi deputado constituinte

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