Título: Falta de agentes de saúde impulsiona dengue no Rio
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2008, Vida, p. A17

Com poucas equipes do Programa Saúde da Família, orientação sobre formas de prevenir a doença é falha; cidade tem 19.169 casos e 28 mortes

Alexandre Rodrigues, RIO

Uma das razões do alto número de casos de dengue no Rio, ao contrário da queda de registros da doença no restante do País, pode ser a baixa cobertura do Programa Saúde da Família (PSF). Para o Ministério da Saúde e especialistas, a ação de agentes comunitários visitando casas o ano todo ajudaria a controlar o avanço da doença.

Levantamento do próprio ministério mostra que o Rio tem uma das menores proporções do País de agentes de saúde e de equipes do PSF com médico e enfermeiro em relação à população: 14,4% e 8,1%, respectivamente (números de janeiro). De acordo com os dados mais recentes, o município acumula 19.169 notificações de dengue em 2008, com 28 mortes.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), diz não ver relação entre o número de equipes do programa e a prevenção da doença. Apesar de o Ministério da Saúde arcar com metade dos custos das equipes, aumentando assim os repasses federais para a cidade, a prefeitura do Rio não tem demonstrado interesse em ampliar a rede. Aos técnicos da pasta, as autoridades municipais se queixam do custo do programa, cerca de R$ 30 mil mensais por equipe.

CONTROLE

Os números indicam, no entanto, um desempenho melhor no combate à doença das cidades que abraçaram o programa. O principal exemplo é Campo Grande (MS). Em janeiro de 2007, a cidade havia superado 20 mil notificações. Este ano, até fevereiro, foram 359.

Para o secretário da Saúde de Campo Grande, Luís Henrique Mandetta, a ação dos agentes, que alcançam 93,3% dos 765 mil habitantes (o alcance das equipes completas do PSF é de 25,2%), foi fundamental para reverter o quadro epidêmico e evitar mortes. ¿Sabemos que os municípios com melhor atenção básica têm mais capacidade de resposta à dengue. Campo Grande teve uma epidemia gigantesca e não teve tantos óbitos como o Rio. A capacidade de mobilização e o acesso ao tratamento é maior¿, diz o diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, Luis Fernando Sampaio. ¿Há regiões no Rio com 300 mil habitantes sem unidades básicas. Falta informação. Não dá para buscá-la no pronto-socorro.¿

Para Sampaio, o melhor exemplo é o de Belo Horizonte (MG). A cidade tem quase 70% de cobertura de equipes completas do PSF, com médicos e enfermeiros. ¿Desde 2002, Belo Horizonte vem conseguindo barrar epidemias. É uma região de alto risco, mas estamos conseguindo evitar o descontrole. O PSF facilita o nosso trabalho porque mesmo que haja descontinuidade no combate ao vetor, os agentes de saúde já têm a orientação sobre dengue na rotina deles. Multiplica nossa ação¿, explica Francisco Lemos, gerente de Vigilância Ambiental de Minas.

Para secretário estadual da Saúde e Defesa Civil do Rio, Sérgio Côrtes, é um erro deixar a mobilização da população nas mãos apenas de mata-mosquitos. ¿O PSF serve para trabalhar com doenças previsíveis, como a dengue. As famílias aprendem a lidar com a questão comunitariamente. O agente de endemias vem com aquela postura policialesca, de ver o que há de errado na casa das pessoas. O agente do PSF é um amigo.¿

OUTROS FATORES

Para a coordenadora do curso de especialização em Saúde da Família da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), Maria Alice Pessanha, os agentes de saúde fazem diferença ao complementar o trabalho de combate à dengue. Mas ela faz uma ressalva: ¿Há outros fatores a se observar, como a questão ambiental, que envolve as condições de moradia, e a suscetibilidade ao vírus do tipo 2, que está deixando as crianças mais vulneráveis.¿

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