Título: Crise é 30 vezes maior que a de 1998
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2008, Economia, p. B3

Lula compara dificuldades nos EUA e diz que Brasil está protegido por reservas maiores que a dívida

Fausto Macedo, CAMPO GRANDE

O presidente Lula afirmou ontem, em Campo Grande (MS), onde deu início a obras do PAC nas áreas de saneamento e urbanização de favelas, que a crise bancária dos Estados Unidos não afetou o ¿querido Brasil¿. Eufórico, ele falou de uma economia fortalecida no País.

¿Em 1998 teve uma crise na Malásia e o Brasil quase quebra. Agora tem uma crise certamente 30 vezes mais forte que a da Malásia, uma crise na maior economia do mundo, que são os Estados Unidos. Eles já estão pensando que essa dívida vai ficar em mais de US$ 1 trilhão e que o Estado vai ter que ajudar a resolver porque parte do sistema financeiro está quebrando e até agora não aconteceu nada com o nosso querido Basil.¿

¿Em 2003 - prosseguiu Lula -, quando tomei posse, o Brasil tinha US$ 30 bilhões de reserva, dos quais US$ 16 bilhões eram do FMI. Então, a gente tinha US$ 14 bilhões na verdade. Devolvemos para o FMI os US$ 16 bilhões deles, pagamos o Clube de Paris e temos hoje quase US$ 200 bilhões em reservas.¿

Lula afirmou que hoje o Brasil ¿tem mais dinheiro do que (o valor) da dívida¿. Ele ironizou seus críticos. ¿E tem gente que fala que isso é sorte do presidente. Ora, a sorte vem para quem trabalha. A sorte depende de decisões políticas, é coragem, é compromisso. O Brasil estava desacostumado a crescer. Foram 26 anos de atrofiamento. Mas agora aprendemos. E não tem volta porque nossa política econômica foi baseada na seriedade e não com mágica.¿

O Brasil vive ¿momento mágico, momento excepcional¿, na avaliação do presidente. Para ilustrar seu pronunciamento, Lula apontou para o FMI e para o milagre econômico no regime militar. ¿Passei 30 anos da minha vida gritando fora FMI. Hoje não tem uma única faixa falando isso porque ele (o Fundo) foi para fora porque cumprimos com as nossas obrigações.¿

O PAC, destacou o presidente para uma platéia de gente muito simples da Vila Popular, nas cercanias de Campo Grande, é investimento de R$ 504 bilhões. ¿A última vez que o Brasil viu isso foi no tempo do (Ernesto) Geisel (presidente do Brasil nos anos 70). Mas, como não tinha dinheiro, tiveram que tomar emprestado. Depois veio nossa dívida externa.¿ ¿O Brasil estava desacostumado a viver bons momentos, como se fosse uma planta encruada, que não cresce¿, insistiu.

¿O Brasil teve momentos extraordinários. Lembro do milagre brasileiro. Eu trabalhava em uma fábrica e tinha tanto emprego neste país que uma fábrica roubava trabalhador da outra. A gente estava de manhã na porta de uma fábrica, passava uma Kombi anunciando que tal fábrica pagava mais e o trabalhador saía de uma fila e ia para outra.¿

¿E o que aconteceu quando terminou o milagre? Descobrimos que quem era rico tinha ficado muito mais rico e tinha aumentado o número de pobres. Havia sempre uma pequena parcela que se apoderava do que era produzido pela maioria.¿

¿Reverter essa situação não é fácil, mas tem que começar¿, disse. Ele comparou o PAC à Muralha da China. ¿Imagina quando o cidadão foi colocar o primeiro tijolo na Muralha da China e, preocupado com o tamanho, ele falasse: Ah, não vou começar porque não vai dar para fazer¿. Ou seja, teve que começar. E o que é o PAC? É o mais bem elaborado programa de desenvolvimento que esse País já produziu.¿

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