Título: Na Europa, inflação preocupa mais. Por enquanto
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2008, Economia, p. B5

Banco central deve manter juros estáveis, enquanto zona do euro enfrenta a maior crise inflacionária em 12 anos

O Banco Central Europeu (BCE) dá sinais de que, pelo menos por enquanto, está mais preocupado em controlar a inflação do que em promover novos cortes nos juros para dar incentivos à economia da zona do euro, formada por 15 países que adotaram a moeda.

Na avaliação do gabinete do presidente do BCE, Jean Claude Trichet, a zona do euro enfrenta sua maior inflação nos últimos 12 anos e a luta é para conseguir ancorar as expectativas inflacionárias. Críticos, porém, alertam que Trichet está se esquecendo de que a economia precisa gerar empregos.

Com uma taxa de juros de 4%, investidores reduzem suas apostas em uma queda do índice pelo BCE. Os dados de inflação da zona do euro em fevereiro apontaram para uma taxa de 3,3% em relação ao mesmo período de 2007. Em janeiro, a alta havia sido de 3,2% na mesma base de comparação.

Entre os 27 países que integram a União Européia, a taxa foi de 3,4%. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não há tanto motivo hoje para que o BCE adote medidas para impulsionar o crescimento, já que os riscos de uma queda de juros seriam altos. ¿Precisamos manter nossos objetivos de ancorar a inflação¿, afirmou Trichet, há uma semana.

Só o setor de alimentos teve alta de 5,8% em fevereiro, enquanto o de transportes subiu 5,4% diante do aumento no preço do barril de petróleo. Os combustíveis tiveram alta de 0,5%.

As economias que mais sofreram em fevereiro com a inflação foram as da Eslovênia, com aumento de 6,4%, e a da Espanha, com 4,4%. Na Itália, a média foi de 3,1%, na França, de 3,2%, e na Alemanha, de 2,9%. Para o ano, a previsão é de uma inflação de 2,6%, meio ponto porcentual maior do que tinha previsto a Comissão Européia e acima do teto considerado aceitável pelo BCE, de 2%.

As projeções indicam que a Europa, por enquanto, conseguirá manter um certo crescimento e não atingirá níveis próximos de recessão. Segundo a OCDE, só o Reino Unido conseguirá crescer 0,6% no primeiro e no segundo trimestre de 2008.

Mesmo assim, o FMI já reduziu a previsão do crescimento europeu de 1,9% para 1,5% em 2008. Para a Comissão Européia, a taxa de crescimento da França, por exemplo, ficará em 1,7%. Para a zona do euro, o crescimento foi reduzido em 0,4 ponto porcentual da taxa original, para 1,8%. Em 2007, o crescimento havia sido de 2,7%.

NO CAMINHO CERTO

Apesar do crescimento baixo, economistas não acreditam que haja a necessidade de um ¿estímulo¿. ¿Não estamos em uma estagnação. Apenas crescendo menos e com maior inflação¿, afirmou o comissário de Finanças da União Européia, Joaquin Almunia. Em outras palavras: ele acredita que o BCE está no caminho certo ao manter as taxas de juros inalteradas, já que os riscos seriam importantes. Em sua avaliação, o que vai incentivar a economia européia são as reformas no orçamento, já realizadas, e maior eficiência e produtividade.

Na quinta-feira, foi a vez de os franceses indicarem que esperam uma aceleração na inflação, mesmo sem o corte de juros. Paris teve de rever para baixo seu crescimento no segundo trimestre de 2008 para 0,3%. A projeção inicial era de 0,4%. ¿Os riscos que temos de enfrentar são grandes e o principal deles é a inflação¿, afirmou nota do governo francês.

Para o ex-secretário de Estado do Ministério das Finanças da Alemanha, atual economista-chefe da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Heinner Flassbeck, o BCE pode estar contribuindo não apenas para uma desaceleração da economia européia ao manter os juros, mas também evitando que haja criação de empregos. ¿O BCE não pode se isolar do restante da economia e pensar que apenas manter a inflação sob controle basta¿, afirmou.

Na Irlanda, a Confederação das Indústrias de Construção - o setor que mais gera empregos no país - alertou, no fim da semana, que o risco de uma taxa de juros a 4% poderia ser a dificuldade para se criar postos de trabalho.

Na opinião de Flassbeck, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de cortar em 0,75 ponto porcentual as taxas de juros nos Estados Unidos, na semana passada, deveria ser imitada pelos europeus, ainda que de uma forma mais conservadora.

¿Nos anos 70, quando houve a crise do petróleo, a inflação européia era de 15%. Não podemos dizer agora que 2,6% seja uma taxa alta.¿

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