Título: Tucanos reagem a dossiê e querem abrir gastos de Lula
Autor: Samarco, Christiane; Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Nacional, p. A5

Virgílio anuncia pedido de autorização a FHC para quebra de sigilo a fim de constranger presidente a igual gesto

Os partidos de oposição vão tentar constranger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a abrir seus gastos com cartões corporativos. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), anunciou ontem que, diante da divulgação de um dossiê sobre as despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, está pedindo ao casal que lhe envie uma autorização expressa para a quebra de sigilo.

Com esse documento em mãos, vai cobrar do presidente que faça o mesmo e libere todas as informações sobre os gastos da família Lula da Silva cobertos pelo cartão. ¿Meu pedido a Fernando Henrique é para que não restem dúvidas de que não existe essa coisa de `não me investiguem que não te investigamos¿¿, disse Virgílio.

Em São Paulo, o governador José Serra (PSDB) defendeu ¿rigorosa investigação¿ do caso. ¿Governo é feito para governar e não para fazer dossiê¿, declarou. ¿O que me preocupa, se esse dossiê realmente é verdadeiro, é que é uma ação absolutamente ilegal, irregular.¿ E conclamou a oposição a tomar medidas. ¿Eu tenho a impressão de que o pessoal no Congresso vai pedir que seja investigado esse vazamento, que foi muito grave.¿

De fato. O PSDB já tem o apoio do DEM para convocar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a dar explicações na CPI dos Cartões, embora o Palácio do Planalto negue sua participação no caso e até a existência do dossiê.

Os dois partidos também dizem que o dossiê foi um ¿tiro no pé¿ dos governistas. ¿Se vazaram o dossiê para intimidar perderam tempo. Uma chantagenzinha não vai dobrar quem tem a obrigação de investigar e ainda jogaram fora o argumento da segurança nacional para manter os dados em sigilo¿, disse líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

Só hoje, porém, o PSDB deve se reunir para definir um contra-ataque político e jurídico ao dossiê. ¿As medidas exatas ainda estão sendo estudadas pelos advogados do partido, mas eu quero interpelar a ministra Dilma e essa interpelação pode ser judicial¿, insistiu Virgílio, que também planeja envolver o Ministério Público nas investigações.

¿Não temos dúvidas de que o dossiê existe¿, reforçou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), convencido de que o desmentido do Planalto é apenas formal, ¿porque eles não podem confessar um crime¿. Ele afirmou que, há pouco tempo, Dilma negou a denúncia da existência de notas frias na prestação de contas dos gastos do governo e depois acabou obrigada a assumir que a acusação era verdadeira.

Ao mesmo tempo em que ameaçam tomar medidas judiciais contra a ministra, no entanto, os tucanos já falam em abandonar a CPI dos Cartões. PSDB e DEM protestam não só contra a paralisação de suas CPIs: a dos Cartões e a das ONGs. ¿Ou se votam os requerimentos de informação e as quebras de sigilo, ou denunciamos a farsa das CPIs e nos retiramos, encaminhando todas as denúncias que tivermos ao Ministério Público, mesmo sem uma investigação profunda¿, ameaçou Dias. Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), contudo, isso equivale a ¿legitimar a farsa¿. ¿Se o governo deixar claro que não quer investigar, o PSDB tem de estar vigilante na CPI para denunciar a operação. Abandonar a comissão vai nos colocar na posição de coadjuvantes da farsa¿, disse.

Diante da ameaça de debandada, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse que, se fosse Lula, abriria mão do sigilo. ¿Não se pode de maneira nenhuma banalizar as CPIs ou deixar que faleçam por inanição.¿

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