Título: Temer quer amarrar 2008 à eleição na Câmara
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Nacional, p. A6

Líder do governo e Berzoini já reiteraram compromisso de rodízio no comando da Casa, mas querem entrega da presidência do Senado ao PT

Bastou uma conversa informal, na semana passada, entre o PT e o PMDB sobre as eleições municipais para ficar claro que a negociação vai além das prefeituras estratégicas para os projetos de poder dos dois partidos. Quando o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), reunir o conselho político do partido, amanhã, em Brasília, os 27 presidentes de diretórios estaduais saberão que a presidência da Câmara também está em jogo e a disputa entre PT e PMDB pela presidência do Senado já foi posta.

Em encontro com Temer e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), reafirmaram o compromisso de rodízio na presidência da Câmara, selado na eleição do petista Arlindo Chinaglia (SP).

Na ocasião, o PMDB abriu mão, em favor do PT, do direito de indicar o presidente da Casa, garantido pelo regimento interno ao detentor da maior bancada. Agora, Temer espera voltar ao posto de presidente da Câmara com o apoio do PT, como lhe foi prometido. Berzoini disse a Temer que o rodízio será cumprido e que o compromisso do PT é eleger o peemedebista como sucessor de Chinaglia.

Ato contínuo, no entanto, o presidente do PT e o líder do governo na Câmara deixaram claro que querem comandar o Senado. ¿Nós defendemos o Temer para presidente da Câmara e o senador Tião Viana (PT-AC) para comandar o Senado¿, resumiu o deputado Henrique Fontana, depois de almoçar com os peemedebistas.

No mesmo tom, o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), enfatizou que o que se quer é cumprir o compromisso firmado na eleição do Chinaglia. Em seguida, no entanto, emendou com um aviso: ¿É Tião lá e Temer cá.¿

REAÇÃO

¿A presidência do Senado não entrou nesse acordo e isso a bancada não aceitará de jeito nenhum¿, antecipa o líder peemedebista no Senado, Valdir Raupp (RO). Segundo ele, o que garante ao PMDB a prerrogativa de indicar o presidente é o regimento, não o PT, que nem a segunda maior bancada é. Os peemedebistas somam 20 senadores, à frente do DEM, que tem 14 representantes; do PSDB, com 13, e só então a bancada petista, com 12 parlamentares.

Berzoini e Fontana insistem em que a bancada petista da Câmara está pronta para cumprir o compromisso firmado por escrito com Temer. Destacam, no entanto, que a expectativa do PT é de que haja ¿equilíbrio¿ no comando das duas Casas. Os petistas argumentam que o PMDB não é uma força hegemônica, a ponto de dirigir ao mesmo tempo a Câmara e o Senado.

Raupp não arreda um milímetro. Diz que houve um tempo em que o PFL não tinha a hegemonia do Congresso e presidiu as duas Casas. Frisa, também, que os 20 senadores do partido estão unidos na disposição de manter a presidência nos dois últimos anos do governo Lula.

¿Há algum tempo minha leitura política era a de que o acordo na Câmara alcançaria também o Senado, dando a presidência ao PT. Agora, entretanto, já estou achando que a tendência no Senado é de que haverá disputa¿, conclui o senador Delcídio Amaral (PT-MS).