Título: Mantega recua e crediário não muda
Autor: Graner, Fabio; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Economia, p. B1

Depois de indicar que iria impor limitações ao crédito para aquisição de bens duráveis, como automóveis, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, recuou e negou que medidas nessa direção estejam em gestação no governo. A afirmação foi feita logo depois de o ministro ter participado da reunião de coordenação política com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que a trajetória da economia brasileira e os riscos de superaquecimento estiveram em pauta.

Diante do risco de desagradar a milhões de pessoas que foram estimuladas pelo próprio governo a se endividar e a demandar bens como carros e geladeiras, Mantega puxou o freio e garantiu que a oferta de financiamentos de longo prazo vai continuar. ¿Não mencionei limitar prazos de financiamento. Só falei que 80 ou 90 prestações talvez fosse um número excessivo. Mas nunca disse que 36 meses seria o adequado.¿

¿O comportamento do consumidor não deve mudar. Não vamos tomar nenhuma medida, não vamos limitar número de prestações. Apenas vamos saber se os bancos estão agindo de forma responsável na emissão, na liberação do crédito¿, disse.

O ministro informou que conversará amanhã com executivos de bancos para avaliar a qualidade dos empréstimos, que estão crescendo de forma acelerada. ¿Queremos impedir excessos e preservar a situação equilibrada que temos agora.¿

Ele evitou afirmar se já haveria excesso de endividamento da população. ¿Isso quem tem de responder é o sistema financeiro brasileiro, que é muito prudente, tanto que não está envolvido nessa crise (externa), que é uma crise de imprudência, principalmente nos EUA.¿

O novo discurso do ministro é de que o governo apenas vai, por meio da política industrial em preparação, estimular os investimentos na economia. O objetivo é evitar eventuais desequilíbrios entre a procura por produtos e a capacidade de a indústria de ofertá-los. Ou seja, preservar o crescimento em níveis elevados, sem inflação.

¿Prefiro um crescimento entre 5% e 5,5% por 10 ou 20 anos, do que um rompante de crescimento que tenha de ser abortado por causa de desequilíbrios¿, afirmou.

Mantega disse que o governo vai definir os estímulos aos investimentos de forma horizontal - beneficiando todos os setores. Mas não descartou medidas setoriais, já que há segmentos que estão com um nível de atividade bem mais alto que a média, como o setor automotivo. O governo quer ouvir também os setores de aço e cimento.

Embora demonstrando preocupação com uma eventual inflação de demanda a partir de 2009, ele disse que não há um processo inflacionário preocupante. Em flagrante contradição, disse que não vê risco de inflação, ¿nem agora nem em 2009 nem em 2010¿.

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