Título: Até aliados de Mantega criticaram a proposta
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Economia, p. B3

Desenvolvimentistas consideraram a medida `um passo equivocado¿

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficou isolado dentro e fora do governo ao defender restrições às operações de crédito como alternativa para conter a demanda e, com isso, evitar uma provável elevação da taxa de juros pelo Banco Central (BC). Mantega foi criticado até mesmo por tradicionais ¿desenvolvimentistas¿, que consideraram a proposta defendida pelo ministro como ¿um passo equivocado¿.

Alguns chegaram a dizer que o ministro ¿errou o alvo¿, ao propor limitar o número de prestações para a compra de veículos no momento em que o governo Lula define estímulos adicionais que permitam novos investimentos no País pelas grandes montadoras. Além disso, lembraram as fontes, os preços dos veículos não estão subindo, mesmo com a fila de espera dos consumidores que aguardam a produção de seus carros e caminhões.

O objetivo de medidas em estudo no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior é elevar a produção de veículos dos atuais 3 milhões para 5 milhões. Para isso, serão necessários investimentos gigantescos das montadoras neste e nos próximos anos.

Com a limitação do crédito para veículos, anunciada por Mantega na semana passada, o receio de setores do governo é que os presidentes das montadoras resolvam segurar os investimentos. ¿Ele não pensou nas conseqüências do que disse¿, avaliou uma fonte. Houve reações contrárias à proposta do ministro da Fazenda até mesmo na Casa Civil, que é, atualmente, onde são definidas as grandes questões estratégicas do governo Lula.

O assunto foi discutido na reunião de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os ministros do grupo de coordenação política, no Palácio do Planalto. Ao término do encontro, um dos presentes foi orientado a vazar à imprensa que o presidente não tinha decidido quais as medidas específicas de redução das facilidades de crédito.

Na avaliação das fontes ouvidas, a proposta de Mantega ¿cheira¿ ao passado, às décadas de 1970 e 1980, quando os governos utilizaram a redução do número das prestações do crédito ao consumidor para reduzir a demanda e, com isso, manter baixa a taxa de juros. O problema dessa estratégia, lembraram esses informantes, é que a limitação do crédito começa por um setor e termina se estendendo a toda a economia, criando um complexo e intricado aparato de restrições.

A proposta de limitação do crédito, feita pelo ministro da Fazenda, faria parte da chamada política de renda para o controle da inflação que, no passado, foi a alternativa à política monetária, de elevação dos juros. Para conter a inflação sem recorrer à política monetária, os governos do passado utilizaram um grande conjunto de controles. Esses controles chegaram ao extremo, quando foi utilizado o tabelamento de preços e leis para regular o aumento dos salários.

O uso da política de renda mostrou-se, no Brasil, incapaz de debelar a inflação e terminou abandonada pela adoção de política fiscal austera, com a obtenção de superávit primário pelo setor público, e de uma política monetária ativa, ou seja, com juros reais positivos.

Há, no governo, quem perceba alguma influência dos novos economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na formulação da proposta defendida por Mantega. O medo de alguns setores do governo, nos quais o Ministério da Fazenda e o Ipea se incluem, é o de que um novo ciclo de aperto monetário possa abortar o forte crescimento da economia brasileira. Por isso, busca-se alternativas que possam conter a demanda e evitar o disparo do gatilho do juro pelo BC.

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