Título: BC eleva previsão de déficit em conta corrente de US$ 3,5 bi para US$ 12 bi
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Economia, p. B4

Turbulência internacional e disparada das importações são as principais responsáveis pela revisão

O ritmo elevado das importações e o agravamento da crise internacional fizeram com que o Banco Central elevasse de US$ 3,5 bilhões para US$ 12 bilhões a projeção de déficit nas transações de mercadorias e serviços do País com o exterior este ano. A piora na estimativa se deve principalmente ao resultado da balança comercial, que deverá fechar o ano com um saldo de US$ 27 bilhões, ante US$ 30 bilhões anteriormente projetados, por causa do aumento de compras de mercadorias no exterior.

No início deste mês, ao anunciar medidas para estimular as exportações e conter o ¿derretimento¿ do dólar, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que é ¿decisão estratégica¿ do governo não permitir déficits nas contas externas de forma permanente. Ontem, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, disse que o resultado negativo esperado para este ano ¿é pequeno, se comparado a países de igual tamanho¿ do Brasil.

¿É um déficit perfeitamente financiável pelo ingresso de investimentos estrangeiros diretos¿, acrescentou. O Banco Central elevou de US$ 28 bilhões para US$ 32 bilhões a estimativa de entrada desse tipo de capital, bem superiores aos US$ 12 bilhões de déficit esperados nas transações correntes. ¿Se a expectativa é de US$ 32 bilhões, quer dizer que está sobrando dinheiro.¿ As novas projeções divulgadas ontem refletem as turbulências no mercado internacional. Sondagens do Banco Central indicaram que muitas empresas brasileiras suspenderam planos de fazer ofertas iniciais de ações (IPOs) este ano, por causa das turbulências no mercado. Por isso, a estimativa para ingresso de recursos estrangeiros para investimentos em carteira (ações e títulos) caiu de US$ 26 bilhões para US$ 12 bilhões.

A redução se deve também à decisão do governo de taxar com 1,5% de Imposto de Operações Financeiras (IOF) o capital estrangeiro aplicado em títulos de renda fixa. A medida entrou em vigor no dia 17 de março, e a expectativa do governo é que ela iniba o ingresso de recursos de curto prazo.

Até mesmo as remessas de brasileiros que residem nos Estados Unidos deverão cair em cerca de US$ 400 milhões este ano, por causa da recessão naquele país e por causa da desvalorização do dólar ante o real. No total, o dinheiro enviado por brasileiros que trabalham no exterior deverá ficar em US$ 3,8 bilhões, e não US$ 4,2 bilhões, segundo as projeções divulgadas ontem pelo Banco Central.

AVALANCHE

Se as projeções para o ano pioraram, os números de mais curto prazo mostram que o ingresso de recursos no Brasil continua forte. Os investimentos estrangeiros em carteira apresentavam, até ontem, um ingresso líquido de US$ 6,694 bilhões - pouco mais de metade do valor projetado para o ano. Altamir não comentou o número, mas disse que o Banco Central espera uma acomodação dos ingressos, por causa do IOF e da redução de IPOs.

Também em março, até ontem, houve entrada de US$ 2,3 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, ante US$ 890 milhões em fevereiro. A expectativa do Banco Central é que até o fim do mês o valor chegue a US$ 3 bilhões.

Em fevereiro, segundo dados divulgados ontem, o déficit em transações correntes ficou em US$ 2,090 bilhões, recorde para os meses de fevereiro na série do BC, iniciada em 1947. O déficit acumulado no primeiro bimestre, de US$ 6,322 bilhões, também é recorde para o período. Para março, o déficit projetado é de US$ 3 bilhões.

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