Título: Investidor ainda avalia leilão da Cesp
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2008, Economia, p. B7
Amanhã é último dia para depósito de garantias, mas empresas mantêm indefinição em relação à participação
Às vésperas de fazer o depósito de garantias para participar do leilão da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), marcado para amanhã, os investidores mantinham o discurso de que ainda estavam avaliando as condições da disputa. Para muitos, essa foi uma estratégia para tentar pressionar o governo numa possível redução do preço mínimo da estatal, estabelecido em R$ 6,6 bilhões. Outros entendem que, de fato, a decisão de comprar a Cesp não é fácil diante das incertezas sobre a renovação do contrato de concessão das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, que representam 67% da capacidade de geração da empresa.
Mas, apesar das indefinições, várias informações circularam ontem pelo setor. Uma delas é que a brasileira CPFL estaria tentando uma parceria com o grupo franco-belga Suez, controlador da Tractebel (empresa pré-identificada para o leilão). Nenhuma das companhias, porém, confirmou a conclusão do acordo. A CPFL já havia conversado com a Neoenergia, controlada pela Previ e com participação da espanhola Iberdrola. Porém, na noite de ontem a Neoenergia informou que não vai fazer o depósito das garantias por causa das incertezas na prorrogação das concessões.
O grupo brasileiro sempre foi um dos fortes candidatos à disputa. Na semana passada, o presidente da empresa, Wilson Ferreira Jr., confirmou o interesse na estatal, mas condicionou a participação no leilão à renovação das usinas, com vencimento em 2015. Na ocasião, ele disse que já estava providenciando o depósito das garantias.
A americana Alcoa também não confirmou presença no leilão de amanhã, mas disse que ainda avalia a possibilidade. Se decidir participar, porém, ela se juntará a outras empresas, já que tem procurado parceiros tanto entre as pré-identificadas quanto entre as que estão fora da disputa. Segundo especialistas, não está descartada a possibilidade de as empresas pré-identificadas se unirem e entrarem no leilão como único consórcio. Isso significaria levar a Cesp pelo preço mínimo.
Para participar do leilão amanhã, as companhias têm até as 12 horas de hoje para apresentar suas garantias na Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). A expectativa é que as empresas gastem até o último segundo para se debruçar, ao lado dos bancos, em cima dos cálculos para uma possível compra. Um ponto à favor pode ser um financiamento a ser liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao vencedor. Procurada, a instituição disse que não se pronunciaria sobre o tema.
O leilão da Cesp trouxe à tona uma situação bastante complicada no setor elétrico. Além das hidrelétricas Jupiá e Ilha Solteira, outras geradoras, com capacidade que beira os 20 mil MW, terão o contrato de concessão vencidos até 2015. Mas o problema não pára por aí. Distribuidoras e transmissoras sofrem do mesmo mal.
A não renovação das concessões, embora prevista em lei, poderia elevar o risco regulatório num momento em que o setor precisa com urgência elevar o volume de investimentos. Com o avanço da economia e o aumento do consumo, o risco de descompasso entre oferta e demanda tem crescido de forma expressiva. Novos racionamentos, a exemplo do que ocorreu em 2001, não estão descartados nos próximos anos por causa da lentidão na expansão da geração.
Ou seja, o governo terá de encontrar uma solução para o problema. Mas, segundo comentários do mercado, o que tem pesado é a questão política. Sinalizar para uma solução agora significaria pôr bilhões de reais nas mãos do PSDB às vésperas de eleições municipais, além de fortalecer José Serra como candidato à presidência.
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