Título: Em sessão marcada por bate-boca, CPI rejeita convocação de Dilma
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2008, Nacional, p. A6

Tropa de choque impede que ministra seja chamada a explicar dossiê sobre gastos reservados de FHC

A mobilização da tropa de choque governista na CPI dos Cartões derrubou ontem, em sessão marcada por bate-bocas, o requerimento de convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por 14 votos a 7, a maioria dos parlamentares foi contra a ida de Dilma à CPI para explicar o dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, Ruth, com cartões corporativos e contas tipo B - abertas em nome de servidores para pagar despesas, por meio de saques ou emissão de cheques.

Nas cinco horas de sessão, os integrantes da CPI votaram e rejeitaram esse único requerimento - e o governo montou estratégia para barrar qualquer abertura de dados sigilosos da Presidência. ¿Não foi só uma sessão improdutiva; foi péssima. A base do governo pode usar todos os caminhos para postergar a investigação e usou. Frustra quem quer trabalhar¿, lamentou a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

A pressão foi grande. Durante a sessão, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) ironizou a atuação de Marisa: ¿Se não sabe o que é regimento, vá para a escolinha do professor Raimundo e aprenda e volte depois. Ou se conduz com o regimento ou não vai se conduzir nada aqui.¿

Desde cedo, líderes da oposição e da base aliada se revezaram na CPI. O motivo do clima tenso era o dossiê contra FHC. A avaliação de parlamentares aliados foi a de que o dossiê ¿foi um tiro no pé¿. O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), foi escalado para serenar os ânimos e garantiu que não há documentação com gastos do tucano.

Depois de dar o recado, Fontana avisou que a base iria votar contra a convocação de Dilma. O líder criticou a carta de Fernando Henrique abrindo o sigilo de suas contas e aproveitou para cutucar o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). ¿Um pouco dessa coragem do ex-presidente deveria ser usada para orientar os tucanos a investigar os gastos com cartão corporativo e com contas do tipo B do governo de São Paulo.¿

Irritados com o dossiê, os tucanos partiram para o ataque na sessão. Marisa comunicou que apresentara requerimento pedindo a quebra de sigilo de todas as contas da Presidência, nas gestões Lula e FHC. Ela anunciou, ainda, que havia convocado o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, para comparecer à CPI terça-feira.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), criticou Marisa por não ter aceitado a explicação do general, que está em férias. ¿Ele comunicou oficialmente uma viagem internacional, dizendo que não poderia vir aqui antes de 7 de abril¿, disse. ¿Não estou extrapolando as minhas funções. O plenário me autorizou a fazer convocação quando o convidado não vem. Esta Casa é maior do que um servidor tirar férias¿, rebateu Marisa. Mais tarde, porém, aceitou o depoimento no dia 8.

¿As pessoas se exaltaram muito. Para se ter outra reunião desse tipo não vale a pena¿, avaliou Marisa, que desmarcou os depoimentos de hoje e remarcou a sessão para terça-feira.

SIGILO

O próximo embate deve ser em torno do sigilo. O governo decidiu rejeitar todos os requerimentos para abrir dados secretos da Presidência, orientação contida em documento distribuído pelos líderes governistas aos 17 parlamentares da base aliada que atuam na comissão.

Dos 48 pedidos de informações de gastos com cartões e contas B, o governo deu aval para aprovar apenas 16, todos sobre dados não confidenciais. O documento, intitulado CPMI dos Cartões Corporativos - Orientação de Voto - Base de Apoio ao Governo lista os requerimentos e, ao lado de cada um, a orientação: pela aprovação, em azul, ou pela rejeição, em vermelho.

¿Se a CPI abafar os gastos de contas de 150 cartões da Presidência, ela caminha para a farsa¿, reagiu o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Links Patrocinados