Título: FHC quebra o próprio sigilo e tucanos pressionam CPI a abrir gasto de Lula
Autor: Samarco, Christiane ; Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2008, Nacional, p. A4

PSDB vai comandar ofensiva para obrigar Planalto a divulgar despesas com cartão da Presidência da República

Christiane Samarco e Cida Fontes, BRASÍLIA

Em carta lida no plenário do Senado pelo líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso liberou ontem a abertura de seus gastos privados durante o período em que ocupou o Palácio do Planalto. Na carta, Fernando Henrique afirma que nunca houve sigilo nos gastos do gabinete da Presidência durante seus dois mandatos. ¿Mesmo porque não há amparo legal para tal procedimento¿, ressalta.

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Ele também diz na carta que não vê inconveniente em que a CPI dos Cartões tome conhecimento dessas contas . ¿Tanto no meu quanto no atual governo¿, ressalta, para completar: ¿É a única maneira de ambos os governos se livrarem de suspeitas que, no meu caso, são infundadas e espero que também o seja no caso do atual governo.¿

A autorização expressa de Fernando Henrique para que seus gastos sejam tornados públicos forçou o PSDB a se empenhar na CPI dos Cartões. O partido decidiu radicalizar nos discursos e nas ações, seja no Congresso ou no Ministério Público. A partir de hoje, Virgílio vai comandar o partido na votação de vários requerimentos, com o objetivo de forçar o Palácio do Planalto a liberar todos os dados relativos às despesas do gabinete presidencial e da família Lula da Silva pagas com cartões corporativos.

¿Não tenho dúvidas de que esta CPI ganhou pernas e será muito difícil para os governistas se recusarem a isso. Agora, a liberação dos dados terá de ser ampla¿, resume o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), dizendo-se indignado com ¿o dossiê do governo Lula¿ sobre os gastos de Fernando Henrique. A disposição do deputado reforça a avaliação predominante no Senado de que a mesma CPI que nasceu sob a suspeita de um acordo entre governo e oposição parece fugir ao controle de quem quer que seja.

A intenção do casal FHC de abrir seus gastos na Presidência tinha sido revelada à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ainda na tarde de segunda-feira. A ex-primeira-dama Ruth Cardoso, em conversa telefônica com Dilma, se disse inteiramente a favor da transparência na questão desses gastos com cartão. Ela acha que tudo deve ser aberto, fiscalizado e divulgado.

Foi a ministra quem tomou a iniciativa de procurá-la, preocupada com o impacto político da notícia sobre o dossiê que teria sido produzido pelo atual governo sobre as despesas de autoridades tucanas. Dilma disse a Ruth que queria falar sobre a reportagem publicada na revista Veja, que revelou gastos do casal FHC. Afirmou que as informações ali contidas ¿não faziam parte de nenhum dossiê montado ou produzido na esfera do governo¿. Ruth considerou o telefonema da ministra ¿como um gesto de extrema gentileza¿.

OFENSIVA

Ao mesmo tempo, porém, Fernando Henrique recomendou à cúpula tucana que vá adiante na ofensiva para abrir as contas do presidente Lula na CPI. ¿É até pueril pensar que eu pudesse cair nessa desculpa da ministra Dilma. Nós ganhamos foi um belo pretexto para radicalizar na CPI¿, disse Virgílio.

No fim da tarde de hoje, a cúpula tucana deverá se juntar a líderes do DEM para ir ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Eles querem entrar com uma representação, pedindo que a montagem e a divulgação do dossiê sejam investigadas.

Na quinta-feira, o líder tucano irá ao Palácio do Planalto, para entregar pessoalmente, no protocolo, um requerimento ao presidente, pedindo que ele siga o exemplo de Fernando Henrique e Ruth e abra suas despesas e as de seus familiares pagas com o cartão corporativo.

¿Decidimos pedir a abertura de todas as contas, para mostrar que o problema não é o PSDB; é o governo Lula, que tem a guarda dessa informação¿, argumenta Aníbal. ¿Queremos que Lula libere essa guarda, não sob essa forma sórdida de dossiê, mas legalmente, transferindo os dados à CPI.¿

O presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE), disse que a oposição sempre respeitou o presidente e nunca apelou para a tática do dossiê contra a família presidencial. ¿Esse padrão é perigoso, de maneira especial para quem está no governo¿, advertiu.

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