Título: Europa foi ocupada há 1,3 milhão de anos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/03/2008, Vida&, p. A29

Mandíbula de hominídeo foi encontrada na Espanha; cientistas afirmam ser de ancestral dos homens

AP

Uma mandíbula desenterrada do fundo de uma caverna na Espanha é um indicativo de que ancestrais do homem andavam na Europa há mais tempo do que se imaginava. O fóssil tem 1,3 milhão de anos - 500 mil anos a mais do que os restos até então mais antigos -, conforme cientistas espanhóis descrevem na edição de hoje da revista Nature (www.nature.com).

Segundo o grupo, trata-se de uma espécie chamada Homo antecessor, ou o pioneiro, possivelmente o ancestral comum de neandertais e homens. O material foi descoberto no ano passado em Atapuerca, no norte do país, ao lado de ferramentas de pedra e ossos de animais.

A trajetória de ocupação da Europa por hominídeos é controversa. Alguns arqueólogos acham que o processo foi protagonizado por grupos diferentes, que surgiram e sumiram rapidamente do continente, substituídos em seguida por outras levas. Isso teria levado a uma lenta difusão pela área.

A teoria dos espanhóis, liderados por Eudald Carbonell, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social, e Jose Maria Bermúdez de Castro, do Centro Nacional de Investigação sobre Evolução Humana, é diferente. Eles apontam similaridades entre esse material e outro fóssil, de 1,8 milhão de anos, achado em Dmanisi, na Geórgia, em 1983.

Segundo eles, hominídeos que surgiram na África e estabeleceram-se no Cáucaso acabaram evoluindo em H. antecessor, que habitou o continente europeu há 1,3 milhão de anos, e não há 800 mil anos, como se imaginava. ¿A descoberta do fóssil mostra que o processo foi acelerado e contínuo, e que a ocupação da Europa aconteceu muito antes e muito mais rápido do que imaginávamos¿, explica Carbonell.

O pesquisador Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, não envolvido no projeto de Atapuerca, diz que a equipe espanhola tem dados técnicos sólidos para estimar a idade do fóssil descrito na Nature. Isso porque três técnicas foram usadas na datação - uma delas é relativamente nova e mede o decaimento radioativo de sedimentos. Alguns pesquisadores usam apenas uma ou duas técnicas para estimar a idade do material desenterrado. ¿Esse é um sítio muito bem datado, tanto quanto qualquer sítio dessa idade pode ser¿, afirma Stringer.

CAUTELA

Porém, ele afirma que as conclusões de Carbonell devem ser analisadas com cuidado. Stringer aponta que a mandíbula não está completa e que as partes preservadas não são comparáveis ao material do H. antecessor recolhido anteriormente, em 1997, na mesma Atapuerca.

Além disso, para ele, estabelecer uma linha direta entre essa espécie e a encontrada em Dmanisi, com uma lacuna de 500 mil anos entre eles, é um passo baseado mais em suposições do que em evidências. ¿É um período muito longo para falarmos em continuidade¿, diz Stringer.

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