Título: China acusa dalai-lama de tornar Olimpíada refém
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/03/2008, Internacional, p. A8

Pequim afirma que líder tibetano chantageia o país para obter `concessões ao separatismo¿

Reuters, Pequim

A China acusou ontem o dalai-lama de usar a agitação no Tibete para fortalecer as pretensões de independência tibetana, usando os Jogos Olímpicos de Pequim, que começam em agosto, como ¿refém¿.

O ataque verbal ao líder tibetano exilado, acusado no sábado de aliar-se a separatistas muçulmanos uigures na região ocidental de Xinjiang - aos quais Pequim freqüentemente acusa de promover atos terroristas -, faz parte de um intenso esforço de propaganda e segurança para conter os distúrbios antichineses às vésperas da Olimpíada.

O jornal oficial do Partido Comunista Chinês, Diário do Povo, afirmou que o dalai-lama, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989, nunca abandonou a violência após fugir da China, em 1959. ¿A chamada `não-violência¿ da claque do dalai-lama é uma grande mentira, do começo ao fim¿, acusa o jornal. ¿O dalai-lama está tramando para tornar refém a Olimpíada de Pequim na intenção de obrigar o governo chinês a fazer concessões para a independência do Tibete.¿

Os protestos no Tibete começaram quando monges budistas se manifestaram na capital do território, Lhasa, no dia 10, no 49º aniversário de um fracassado levante contra o domínio chinês.

Cinco dias depois, manifestações antichinesas abalaram a cidade. Segundo autoridades de Pequim, um policial e 18 civis foram mortos.

Protestos antigovernamentais pipocaram em seguida em províncias próximas com grandes populações tibetanas étnicas. Grupos pró-Tibete afirmam que a repressão ao movimento deixou dezenas de mortos e feridos.

Em Sichuan, Gansu e outras províncias conturbadas, tropas continuaram patrulhando ostensivamente as ruas de cidades tibetanas, mantendo sob intensa vigilância escolas e mosteiros budistas.

A agência de notícias oficial Nova China reportou ontem que 94 pessoas ficaram feridas em áreas tibetanas de Gansu, quase todas policiais.

O dalai-lama, que na semana passada negou que tivesse condições de acirrar os protestos dos tibetanos, rejeitou ontem mesmo a acusação de que pretende causar danos à Olimpíada e lembrou que deu apoio à candidatura de Pequim para que recebesse os jogos.

O líder máximo do budismo tibetano, que nos últimos dias tem pedido o fim da violência no Tibete, disse que deseja discutir com a China uma autonomia negociada, e não a independência do território.

Mas o governo chinês está intensificando a propaganda contra o religioso, apontando-o como líder de um movimento que visa a forçar o esvaziamento - até mesmo com um possível boicote por parte de países ocidentais - da Olimpíada de Pequim.

¿Precisamos obter a vitória final em todos os aspectos contra as forças separatistas para ajudar a assegurar o êxito dos Jogos Olímpicos com uma situação social estável na Região Autônoma do Tibete¿, disse o governador do Tibete, Qiangba Puncog, segundo a agência Nova China.

Os esforços de Pequim para isolar o dalai-lama podem transformar-se num problema para o recém-eleito presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, que - apesar da posição pró-Pequim - disse que o líder exilado tibetano seria bem-vindo à ilha, e um boicote à Olimpíada era possível. A China considera Taiwan uma província separatista que deve aceitar a reunificação.

As denúncias do dalai-lama pela China atraíram o aplauso de muitos cidadãos chineses da etnia han, para os quais os críticos do Ocidente não conseguem avaliar os esforços de seu governo para desenvolver o Tibete. Mas a campanha atrai também alguns críticos domésticos de Pequim.

No sábado, um grupo de 29 dissidentes chineses conclamou o governo a pôr um fim à propaganda, permitir inspetores da ONU no Tibete e abrir um diálogo direto com o dalai-lama.

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