Título: Mugabe: Declarar vitória é golpe
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2008, Interncional, p. A10

Harare

O principal partido opositor do Zimbábue, Movimento pela Mudança Democrática (MDC), deu por certa sua vitória para a presidência nas eleições de sábado, baseando-se em resultados parciais e não oficiais. O governo do presidente Robert Mugabe alertou o partido opositor de que proclamar a vitória prematuramente poderia ser visto como um ¿golpe de Estado¿.

O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, afirmou que, com os resultados de 35% dos centros de votação, o candidato de seu partido, Morgan Tsvangirai, liderava com 67% dos votos. ¿É um momento histórico para nós. Ganhamos essa eleição¿, afirmou Biti. Segundo o jornal britânico The Guardian, observadores independentes afirmaram que dois terços das centrais de apuração davam a Tsvangirai 55% dos votos, enquanto Mugabe teria 36%. Eles disseram que não haveria forma de o presidente conseguir ser reeleito legitimamente.

A Comissão Eleitoral do Zimbábue repreendeu o MDC por ter anunciado sua vitória. ¿Recebemos com preocupação que algumas partes (do processo) tenham anunciado aparentes resultados das eleições quando, realmente, eles estão sendo verificados¿, afirmou o presidente da comissão, Lovemore Sekeramayi. ¿Não são resultados oficiais. Eles só serão divulgados à nação pela comissão, que pede aos cidadãos que aguardem enquanto se completa o processo.¿ Há previsão de que os resultados comecem a ser divulgados à 1 hora de hoje.

Uma comissão de 38 ONGs do Zimbábue que supervisionaram a votação afirmou ontem que o atraso da divulgação dos resultados oficiais poderia impulsionar tensões no país africano. ¿A demora no anúncio dos resultados alimenta as especulações de que estão tramando algo¿, afirmou Noel Kututwa, chefe da Rede de Apoio Eleitoral do Zimbábue. ¿Durante as eleições passadas, os resultados começaram a chegar a partir das 21 horas - duas horas depois do fechamento dos colégios eleitorais -, e agora, 18 horas depois do encerramento, seguimos sem ter nada.¿ Ontem, o Exército permaneceu em alerta máximo para tentar evitar manifestações violentas no país. De acordo com a polícia, 13 militantes - entre eles candidatos ao Parlamento - foram presos na capital Harare depois de confrontos entre partidários de facções diferentes da oposição. Os confrontos deixaram cinco feridos. Um parlamentar do partido governista que perdeu a eleição também foi preso. Elliot Manyka, do partido de Mugabe, foi detido depois de disparar vários tiros ao ficar sabendo que perdeu sua cadeira no Parlamento para um representante do MDC.

O juiz da Comissão Eleitoral George Chiwese justificou que a demora na divulgação dos resultados oficiais se devia ao fato de que, pela primeira vez, eleições presidenciais, legislativas e municipais foram realizadas simultaneamente. ¿Essa foi uma eleição muito mais complicada¿, disse Chiwese.

As eleições de sábado representam o mais difícil teste para o presidente Mugabe, no poder desde 1980 e concorrendo para um sexto mandato. A oposição já acusou Mugabe de querer fraudar a eleição para manter-se no poder. No sábado, observadores africanos denunciaram a existência de 8,5 mil eleitores fantasmas registrados para votar nas eleições.

O governo dos Estados Unidos afirmou que está preocupado pelo modo com o qual as eleições foram conduzidas. ¿O regime de Mugabe é uma desgraça para o povo do Zimbábue e uma desgraça para o sul da África¿, afirmou a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Mugabe acusa o Ocidente de sabotar a economia do país, que chega a ter uma hiperinflação de mais de 100.000% ao ano. AP, AFP, EFE E REUTERS

NÚMEROS

67% dos votos apurados em 35% dos centros eleitorais seriam para o candidato opositor Morgan Tsvangirai, afirmou seu partido, o Movimento pela Mudança Democrática

66% dos centros indicaram que 55% dos votos foram para Tsvangirai, enquanto Mugabe teria 36%, disseram observadores ao `Guardian¿

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