Título: Para Itália, casos de semi-escravidão são pontuais
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2008, Internacional, p. A15

O governo italiano admitiu a existência de casos de trabalho semi-escravo no país, mas afirmou que a prática não é generalizada, garantindo que os responsáveis ¿são severamente punidos¿. A admissão foi feita ao Estado, que em sua edição de ontem revelou que alguns imigrantes que trabalham no sul da Itália vivem em condições degradantes, recebem salários que mal pagam alimentação e transporte e sofrem violações aos direitos humanos.

Sem poder contar com trabalhadores italianos, os tradicionais produtores de uva, tomate ou laranja da Calábria, Sicília e Foggia recorrem à mão-de-obra barata de africanos e imigrantes de outras regiões do mundo para conseguir colocar seus produtos no mercado a um preço competitivo.

Em resposta à reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério do Interior da Itália garantiu que ¿não tolera¿ a situação de escravidão vivida pelos imigrantes. ¿Temos leis muito duras contra essas práticas e atuamos para coibi-las¿, garantiu. O ministério, porém, não conseguiu especificar um só caso de condenação a um fazendeiro ou intermediário flagrados violando os direitos dos imigrantes nos últimos seis meses.

O órgão italiano também afirmou que o caso revelado é ¿apenas pontual¿: ¿Não se trata de uma prática generalizada¿. Segundo o governo, há cerca de 3 milhões de imigrantes em situação regular na Itália - entre 300 mil e 500 mil seriam ilegais. ¿Desse total, os casos de abusos são pequenos¿, garantiu o ministério. Ativistas de direitos humanos, no entanto, afirmam que esses números são subestimados, acusando as autoridades locais e produtores agrícolas de serem coniventes.

A ONG Médicos Sem Fronteiras indica que apenas na cidade de Rosarno, na Calábria, parte significativa dos 5 mil imigrantes ilegais vive em total indigência nos locais de trabalho. As autoridades locais eximem-se de resolver o problema afirmando que a responsabilidade é do governo nacional. A União Européia também evita comentar as violações. A justificativa: é responsabilidade das autoridades italianas aplicar a lei e evitar abusos.

O relator da ONU para o direito à moradia, Miloon Khotari, alerta que as violações não são uma exclusividade italiana. ¿Na Espanha, há pessoas vivendo em locais equivalentes às favelas dos países pobres¿, afirmou.

ELEIÇÃO

Sem qualquer peso político, os imigrantes em situação de semi-escravidão são ignorados pelos partidos de direita e esquerda que disputarão as eleições gerais italianas nos dias 13 e 14. O tema só é discutido quando o assunto em questão é segurança. ¿Os partidos apenas abordam a possibilidade de a violência aumentar com os imigrantes ilegais¿, diz Francesca Zuccaro, membro dos Médicos Sem Fronteira. ¿Se não houver uma reação dos cidadãos, dificilmente a situação desses trabalhadores mudará¿, completou.

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