Título: Nem alta de preço reduz importação
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2008, Economia, p. B1
Os preços em dólar dos produtos importados já subiram, em média, 10,4% nos últimos 12 meses e mesmo assim não foram capazes de conter o ritmo das compras externas do País. Engordado por desembarques crescentes de produtos inusitados, como papel higiênico e até preservativos, o volume das compras externas brasileiras cresceu de 23,6% no período, mais que o dobro da alta dos preços.
Os números são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e mostram que a alta nos preços foi puxada pelos combustíveis, que ficaram 17,9% mais caros, e pelos bens de consumo não-duráveis, com alta de 14,7%. Já os bens de consumo duráveis tiveram aumento bem menor nos preços, de apenas 1,3%.
Além disso, a desvalorização do dólar frente ao real mais que compensou esses aumentos. A taxa de câmbio deflacionada pelo Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta queda acumulada de 18,2% para a moeda americana desde fevereiro de 2007.
O consumidor pode até não perceber, mas boa parte dos produtos que encontra nos supermercados é fabricada no exterior. Um exemplo é o papel higiênico Dualette, importado do Chile e da Argentina. Segundo a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), o País trouxe do exterior 17,7 mil toneladas de papel higiênico e pasta para fraldas em 2007, quase 20% mais que no ano anterior. Ainda é pouco comparado com o consumo interno de papéis sanitários, da ordem de 770 mil toneladas, mas o avanço das importações em outros segmentos do mercado já preocupa os fabricantes locais.
A quantidade de papel para imprimir e escrever importada nos dois primeiros meses deste ano, por exemplo, cresceu nada menos que 181% em igual período de 2007. ¿Chegamos a um ponto em que é muito difícil manter a rentabilidade nos negócios, porque o câmbio não pára de cair, enquanto o custo interno de produção sobe¿, diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa.
Nesse cenário, o ritmo de crescimento das importações de papel atingiu 40% no primeiro bimestre do ano, quase quatro vezes o das exportações, que aumentaram apenas 12% no mesmo período. Mais de 80% dos produtos em aerossol vendidos no Brasil são fabricados na Argentina. Estima-se que nos últimos três anos a indústria brasileira de aerossóis perdeu US$ 500 milhões e 5 mil postos de trabalho devido à invasão argentina.
O problema é que a produção brasileira está sendo transferida para a Argentina, por causa da qualidade e dos baixos preços dos gases propelentes. O país vizinho congelou os preços dos gases butano e propano, derivados do petróleo, tornando seus preços imbatíveis. Multinacionais como Unilever, Gillette e Ceras Johnson já não fabricam aerossóis no Brasil.
Links Patrocinados