Título: Fabricantes locais sucumbem à onda made in China
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2008, Economia, p. B3

A invasão de importados chineses deve chegar a mais de 220 milhões de unidades de 4 mil tipos de produtos

Os fabricantes de aparelhos eletroeletrônicos portáteis de áudio desistiram de produzir rádio portátil, CD player pessoal, rádio toca-fitas de bolso e rádio-relógio no País em 2005. Além dos efeitos do real valorizado, eles estavam desanimados com a concorrência desleal dos produtos contrabandeados da China. A invasão chinesa também atropelou a fabricação de alguns segmentos das indústrias de confecções, de eletrodomésticos e de condicionadores de ar, entre outros.

A indústria dos ¿made in China¿ deve despejar este ano no País mais de 220 milhões de unidades de produtos destinados principalmente às classes de renda D e E, como utensílios domésticos, objetos de decoração, brindes e ferramentas.

São mais de 4 mil tipos de produtos, 95% deles fabricados na China, que abastecem cerca de 55 mil pontos-de-venda em todo o território nacional. Esse comércio popular conquistou a simpatia dos consumidores, há cerca de 13 anos, quando surgiram as lojas de R$ 1,99. ¿Por causa do amadorismo que existia naquela época, o setor carrega o estigma de sonegar imposto e de vender produtos de baixa qualidade e piratas, mas hoje isso está longe da realidade¿, afirma Gustavo Dedivitis, presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (Abipp).

O faturamento das empresas associadas à entidade deve crescer 15% este ano e atingir R$ 5 bilhões. ¿Os produtos importados populares resgatam o direito de consumo da população das classes D e E, embora já tenhamos registrado uma grande participação das classes C e B nesse segmento¿, observa Dedivitis.

Segundo ele, a desvalorização do dólar impulsionou as importações desse tipo de produto. ¿Com o dólar baixo, os produtos importados tendem a ser de nível mais elevado pelo mesmo valor.¿ Com o aquecimento do consumo doméstico, o faturamento das indústrias de produtos populares - entre nacionais e importados - deve atingir R$ 12,6 bilhões neste ano.

Empurrada pelo dólar barato, a indústria brasileira recorre cada vez mais à importação de máquinas, matérias-primas e componentes para compensar parte da perda de competitividade do produto brasileiro. Com o dólar na casa dos R$ 1,70, empresas de diferentes setores desembolsam menos reais para ter acesso a inovações tecnológicas que garantem saltos de produtividade e eficiência em suas fábricas.

Segundo a Funcex, os preços em dólar dos produtos intermediários (bens manufaturados ou matérias-primas processadas que são empregados para a produção de outros bens ou produtos finais) tiveram aumento médio de 10% no período de 12 meses até fevereiro.

Na importação de bens de capital, que refletem investimentos da indústria brasileira na ampliação e modernização de suas fábricas, o aumento de preços foi bem menor, de 4,2% em média.

SEM INOVAÇÕES

No entanto, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, diz que mais de 50% dos produtos que entram no País não traz inovações tecnológicas nem aumento de competitividade da indústria nacional. Para ele, dos quase US$ 15 bilhões em máquinas que o País importou no ano passado, só 45% agregam inovações e melhoram o produto. Os outros 55% são considerados ¿importações do mal¿, procedentes principalmente da China.

Segundo Aubert Neto, esses equipamentos são subfaturados e chegam a entrar o País por US$ 5 o quilo, o que não pagaria sequer o custo da matéria-prima. Para se ter uma comparação, o quilo da máquina produzida no Brasil custa de US$ 20 a US$ 70.

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