Título: Uribe propõe às Farc anistia em troca de reféns
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2008, A25, p. A25

Presidente colombiano, porém, pressiona guerrilha ao oferecer recompensa a rebeldes que libertarem cativos

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, baixou um decreto pelo qual os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que estão presos começarão a ser anistiados assim que os guerrilheiros soltarem o primeiro refém em seu poder. ¿Não importa se os delitos cometidos por eles sejam de rebelião, crimes comuns ou de lesa humanidade¿, afirmou o comissário do governo para a paz, Luis Carlos Restrepo, após a reunião na qual foram acordados os termos do decreto, na quinta-feira à noite. Segundo Restrepo, a única condição para os rebeldes serem soltos é que ¿se comprometam a não voltar a delinqüir¿.

No entanto, o procurador-geral colombiano, Mario Iguarán, disse ontem à noite que, pela lei, a libertação de Ingrid não basta para permitir a anistia. ¿A suspensão condicional da pena se concede quando há o acordo humanitário e são libertados todos os seqüestrados¿, afirmou. ¿O próprio decreto (de Uribe) entende que um acordo humanitário significa a entrega da totalidade dos seqüestrados.¿

O governo reiterou que um fundo de US$ 100 milhões será usado para recompensar guerrilheiros que ajudem a libertar reféns e anunciou novas ¿ações para localizar os seqüestrados¿. Restrepo admitiu que tais iniciativas foram motivadas por informações sobre a deterioração do estado de saúde da ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt, refém desde 2002.

Na quinta-feira, o defensor público Vólmar Pérez disse ter informações de que Ingrid estava tão mal que em fevereiro os rebeldes a levaram duas vezes para receber tratamento em postos de saúde em localidades do Departamento (Estado) de Guaviare cercadas pela selva. Ontem, o jornal Hoy publicou que Ingrid não foi atendida só duas, mas sim quatro vezes, e divulgou mais detalhes sobre a sua visita aos povoados da região. ¿Padre, por favor reze por nós e por Ingrid, porque ela está muito mal¿, teria dito um dos guerrilheiros que acompanhavam a ex-candidata a um sacerdote.

A urgência das Farc em libertar Ingrid para evitar que ela morra em suas mãos seria, na avaliação do governo, um dos fatores de pressão para que os guerrilheiros aceitassem a proposta. Mas, até a noite de ontem, os rebeldes ainda não se haviam pronunciado. ¿As Farc não estão interessadas num acordo simples que permita a troca de reféns por prisioneiros, até porque esses guerrilheiros presos têm pouca importância para a guerrilha¿, disse ao Estado o cientista político Pablo Casas, da Fundação Segurança e Democracia, em Bogotá. ¿O que elas querem é transformar a negociação sobre os reféns numa forma de ganhar protagonismo no cenário interno e externo para obter status político - e isso a nova proposta não permite.¿

Ingrid faz parte de um grupo de 40 reféns políticos que as Farc se dizem dispostas a trocar por 500 rebeldes presos. Para iniciar as negociações, porém, a guerrilha exige a criação de uma zona desmilitarizada nos municípios de Pradera e Florida - condição que Bogotá se recusa a aceitar.

Nos últimos meses o governo vem tentando cercar as Farc com uma dura ofensiva militar e promessas de gordas recompensas para os guerrilheiros que mudarem de lado e entregarem informações estratégicas para as forças oficiais.

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