Título: Choque entre polícia e tibetanos mata 2
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2008, Internacional, p. A19

Policial e monge morrem em Sichuan; no Tibete, cinco acusados de envolvimento em distúrbios são presos

Cláudia Trevisan, PEQUIM

Choques entre manifestantes tibetanos e forças de segurança chinesas provocaram na segunda-feira a morte de um policial na Província de Sichuan, de acordo com a agência oficial Nova China, em um indício de que os protestos nas regiões próximas do Tibete ainda não foram totalmente controlados. O Centro Tibetano para Direitos Humanos e Democracia, com sede na Índia, afirmou que um monge tibetano morreu e outro ficou gravemente ferido na mesma manifestação - ambos teriam sido vítimas de tiros da polícia. Segundo a entidade, 200 pessoas participaram do protesto, marcado por palavras de ordem como ¿Libertem o Tibete¿ e ¿Longa vida ao dalai-lama¿.

Autoridades de Pequim anunciaram ontem a prisão de cinco tibetanos suspeitos de iniciar incêndios que provocaram a morte de dez pessoas nos dias 14 e 15 em Lhasa, capital do Tibete, e num distrito vizinho. Os protestos antichineses do dia 14 foram os mais violentos desde 1989, quando a lei marcial vigorou no Tibete por 13 meses. O governo chinês afirma que ao todo 22 pessoas morreram, enquanto organizações ligadas a tibetanos no exílio falam em 140 mortos.

Shan Huimin, porta-voz do Ministério de Segurança Pública, disse que os cinco detidos confessaram participação nos crimes. Três são mulheres suspeitas de pôr fogo numa loja de roupas, causando a morte de cinco vendedoras, uma delas tibetana. Os outros são acusados de incendiar uma loja no distrito de Dagze, onde cinco pessoas morreram - entre elas, um bebê e seus pais. Um jornalista da revista The Economist que estava em Lhasa no dia 14 relatou que os manifestantes atacaram principalmente lojas de propriedade de chineses han, etnia de 91,6% da população do país.

Chineses han se mudaram para o Tibete nas últimas décadas com estímulo de Pequim, em uma tentativa de garantir a integração da região ao território chinês. A explosão de violência no dia 14 é um indicador do grau de tensão étnica que persiste na região. O ateísmo do Partido Comunista se choca com a profunda religiosidade dos tibetanos, que têm como líder espiritual o dalai-lama, exilado na Índia desde 1959 e proibido de entrar na China. Ontem, o dalai-lama reiterou sua ameaça de renunciar ao posto de chefe do governo tibetano no exílio se as manifestações de violência continuarem.

No Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, a União Européia, os EUA, o Canadá e outros países ocidentais pediram que a China pare de usar a força contra os manifestantes. Pediram também que os protestos sejam pacíficos. O Brasil não se pronunciou.

Em Katmandu, no Nepal, a polícia reprimiu com bastões de bambu um protesto de monges e refugiados tibetanos diante da embaixada chinesa. Cerca de cem manifestantes foram detidos. COM AP

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