Título: Cubanos vão às compras após liberalização
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2008, Internacional, p. A14
Lojas da ilha já vendem eletrônicos para a população local, mas ainda são poucos os que podem pagar
Havana
Após anos de restrições, os cubanos foram às compras. Lojas de eletrônicos por todo o país começaram a vender ontem DVDs, scooters, televisores, panelas elétricas e outros aparelhos cuja venda era proibida para a população local desde 2003, quando Cuba sofreu uma grave crise energética. Os computadores, segundo vendedores de lojas de informática em Havana, ainda não haviam chegado, mas em breve também estarão disponíveis.
Por cautela ou por falta de recursos, alguns cubanos se limitaram a conferir os preços e a olhar as mercadorias recém-colocadas nas vitrines. Outros, não hesitaram em comprar, como se a permissão para a venda desses aparelhos fosse ser revogada a qualquer momento.
A medida foi a primeira de um pacote que está sendo implementado pelo presidente de Cuba, Raúl Castro, com o objetivo de ¿acabar como excesso de proibições¿ na ilha. Recentemente, o governo suspendeu as restrições à venda de celulares para os cubanos e liberou o comércio de insumos agrícolas, como fertilizantes, sementes e ferramentas. A medida que proibia habitantes da ilha de se hospedarem em hotéis para turistas também foi derrubada.
A maior parte das liberalizações não foi anunciada por autoridades cubanas ou pela imprensa oficial, mas foram os rumores se encarregaram de espalhá-las pelos quatro cantos da ilha. ¿A televisão e o (jornal) Granma não disseram nada¿, afirmou o segurança Marcos, que ontem voltava para casa com um DVD debaixo do braço. ¿Quando fiquei sabendo que estavam vendendo esses aparelhos, corri para o banco e saquei o dinheiro que estávamos economizando para comprar um para o meu filho¿, explicou.
Contudo, não são todos os cubanos que puderam se dar esse luxo. O salário médio na ilha é de US$ 19. Uma scooter custa entre US$ 800 e US$ 1.000. Uma panela elétrica, US$ 37. Um DVD, US$ 120. ¿Isso é quase a metade do que ganho por ano¿, observou Lázaro Paneque, um pedreiro de 34 anos que trabalha para o Estado, mas que completa o orçamento com alguns bicos.
¿A primeira conseqüência dessa liberalização será lançar luz sobre as desigualdades em Cuba¿, disse ao Estado o economista cubano Carmelo Mesa-Lago, autor de dezenas de livros sobre a ilha.
Ele explica que as reformas beneficiarão uma pequena parcela privilegiada da população. São altos funcionários do governo, donos de uma estreita gama de pequenos negócios permitidos na ilha, membros de cooperativas privadas e outros cubanos que atuam no mercado negro ou recebem dinheiro de parentes que vivem no exterior.
¿Se o governo não fizer reformas mais profundas - que incentivem a produção, promovam a livre iniciativa e aumentem o nível dos salários - no médio prazo, mudanças como essa só aumentarão o ressentimento daqueles que não podem comprar por não ter dinheiro¿, disse Mesa-Lago. AFP, AP E REUTERS, COLABOROU RUTH COSTAS
Links Patrocinados