Título: Oposição no Zimbábue diz que está prestes a assumir o governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2008, Internacional, p. A15

Tsvangirai nega estar negociando a renúncia de Mugabe e afirma que seu desafio agora é governar

Reuters e NYT, Harare

A oposição do Zimbábue afirmou ontem que está na iminência de assumir o poder após sua alegada vitória nas eleições de sábado, mas negou que esteja negociando com o governo a renúncia do presidente Robert Mugabe, que dirige o país há 28 anos. Tanto partidários do presidente como o candidato opositor Morgan Tsvangirai foram enfáticos ao refutar versões da imprensa estrangeira de que a oposição e o governo haviam chegado a um acordo para a saída de Mugabe.

¿Não existe nenhuma discussão (com o governo), isso é especulação¿, disse Tsvangirai no final da noite em Harare, durante uma entrevista coletiva em que já falou como se fosse presidente. ¿Por anos, percorremos uma jornada de fome, dor, tortura e brutalidade. Hoje, enfrentamos o novo desafio de governar e reconstruir nosso país¿, afirmou, desconsiderando projeções segundo as quais a disputa entre ele e Mugabe iria para o segundo turno.

Versões sobre uma possível renúncia de Mugabe surgiram após funcionários de seu partido (Zanu-PF) e observadores internacionais afirmarem que Tsvangirai havia vencido, mas não tinha obtido mais da metade dos votos - o que seria necessário para encerrar a disputa já no primeiro turno.

Um diplomata ocidental em Harare afirmou à Reuters que a comunidade internacional está discutindo idéias para persuadir Mugabe a deixar o poder, mas ainda não há nada decidido. Há temores - no país e no exterior - de que esperar três semanas para fazer o segundo turno seja muito arriscado, já que poderiam ocorrer confrontos entre forças de Mugabe e partidários da oposição.

Até ontem, três dias após a votação, o governo ainda não havia divulgado nem resultados parciais da disputa para presidente - o que levantou suspeitas da oposição e de ONGs de que Mugabe estaria adiando a divulgação dos dados para manipulá-los a seu favor.

Funcionários do Zanu-PF citados pela Reuters disseram que projeções extra-oficiais mostravam Tsvangirai com 48,3% dos votos, Mugabe com 43% e o ex-ministro das Finanças Simba Makoni com 8%. Uma apuração paralela feita pelo Movimento pela Mudança Democrática - de Tsvangirai - deveria ser divulgada formalmente na madrugada de hoje. Funcionários do partido têm dito que Tsvangirai obteve cerca de 60% dos votos.

Quando à disputa parlamentar, já há resultados oficiais. De um total de 210 assentos, já foram definidos 182. Até agora, o MMD e um grupo aliado conquistaram 92, enquanto o Zanu-PF obteve 90. Seis ministros aliados de Mugabe perderam suas cadeiras para opositores.

A tensão é grande. O Exército anunciou estar pronto para ¿lidar com quem recorrer à violência¿. A presidência da União Européia, ocupada pela Eslovênia, pediu que Mugabe renuncie. ¿Se ele ficar, será golpe de Estado¿, disse o chanceler esloveno, Dimitri Rupel.

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