Título: Empresários apelam contra alta do juro
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2008, Economia, p. B1

Em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico, eles pediram a Lula que não deixe o BC elevar a taxa Selic

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pressionado ontem pelos empresários, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), para que não deixe o Banco Central elevar os juros para conter a demanda e reduzir as pressões inflacionárias. ¿Não nos decepcione, presidente¿, chegou a pedir o consultor Antoninho Marmo Trevisan.

O ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso sugeriu que o governo corte gastos para conter a demanda, em vez de elevar os juros. ¿No Brasil, utiliza-se muito a política monetária e subutiliza-se a política fiscal.¿ Ele lembrou que o mundo todo está utilizando cada vez mais a política fiscal como instrumento de ajuste da economia, pois seu uso ¿leva a uma taxa de câmbio mais equilibrada e mais favorável às exportações¿.

Ao fazer seu pedido a Lula, de quem foi aliado de primeira hora, Trevisan recorreu a uma imagem usada pelo próprio presidente. No passado, Lula disse que queria o CDES fazendo o mesmo que sua mulher Letícia, que regava um pé de jabuticaba em sua casa de São Bernardo, para que ele desse frutas. ¿Nós regamos a planta, presidente, e na hora que ela vai dar uma bacia de jabuticabas, nós não podemos ficar apenas com os caroços¿, afirmou, numa referência ao aumento dos juros.

Trevisan disse que o governo não pode ¿cometer o mesmo erro de 2004¿, quando o Banco Central elevou a taxa de juro para esfriar a economia e, dessa forma, debelar pressões inflacionárias. ¿Naquela época, a política monetária jogou por terra o crescimento. Por que deixar cometer de novo essa ousadia?¿, questionou. ¿Não estamos enxergando nenhum ponto de ruptura da economia (que justifique a elevação dos juros).¿

A reação de Lula foi cautelosa e ambígua. Primeiro, ele fez uma análise da crise internacional e disse que, se a recessão americana for profunda, poderá afetar o Brasil. Embora a vulnerabilidade do País seja menor agora do que em qualquer outro momento, Lula disse que é preciso ter cuidado. ¿Nós ainda estamos consolidando determinado jeito de governar este país e pretendemos não facilitar um milímetro sequer. Nós nem vamos comer muitas bacias de jabuticaba nem vamos comer caroço. Vamos continuar do jeito que nós estamos porque está bem¿, afirmou, sugerindo, com isso, que gostaria que a economia continuasse crescendo, mas sem exageros.

Em seguida, Lula mostrou preocupação com a forte demanda da economia. ¿Todo mundo aqui sabe que é muito importante o crédito continuar crescendo, é muito importante o consumo continuar crescendo, mas todo mundo sabe que é importante que cresçam os espaços nas fábricas para produzir, porque, na hora em que houver um descompasso (entre a oferta e a demanda), todos nós sabemos que o risco é muito grande e já vivemos isso em outras vezes.¿

O presidente lembrou que as indústrias de vários setores não estão conseguindo atender à demanda para seus produtos. Ele citou o caso da Petrobrás, que enfrenta uma espera de mais de 400 dias por equipamentos para a prospecção e produção de petróleo e gás.

Lula garantiu que não haverá ¿retrocesso na economia¿ e negou que o governo tenha um Plano B, para enfrentar uma eventual crise. ¿Nós temos de ser teimosos e continuar fazendo o que está dando certo.¿

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